Redes sociais da ABA:
GT 057. Processos e dinâmicas no ciberespaço: divergências, dissidências, usos e contra-usos em relação à experiência de si
Apresentação Oral em GT
Raíra Bohrer dos Santos
A produção e experimentação de si na rede fetichista FetLife
O work aqui proposto é decorrente de uma pesquisa em andamento. Emerge da trajetória de pesquisa etnográfica entre graduação, mestrado e seus desdobramentos até o momento no doutorado em curso, que mantém em comum o foco nos desafios e estratégias metodológicas em contexto digital e sexual. Assim como se evidencia o caminho interconectado entre os ambientes e plataformas e os decorrentes campos de pesquisa. Ao seguir o fluxo dos interlocutores de pesquisa, descobri o FetLife como uma rede expoente para reunião de praticantes e interessados em BDSM e fetiche. Com um olhar mais atento, por meio da criação de um perfil nessa rede social para fetichistas em meados de 2015, percebi diferentes dinâmicas e usos feitos pelos usuários. A partir dessas observações, a rede social FetLife, suas dinâmicas e usos, tornaram-se ambiente e objeto da pesquisa atual. A plataforma FetLife, enquanto marco central de encontro entre praticantes e curiosos de BDSM e fetiche, tornou-se terreno extremamente fértil para compreensão das expressões sexuais do nosso tempo. Aproximo-me da perspectiva de que a rede social fetichista faz parte de um ambiente digital capaz de comportar subjetividades e o imaginário do ser humano, através da elaboração de identidades, corporalidades, sociabilidades, construção e experimentação de si. Apesar de a rede social dar suporte e encorajar para um uso mais realista da plataforma, muitos residentes do Second Life fazem uso de perfis para seus avatares e se relacionam entre si e com os outros usuários não residentes do universo virtual. Muitos usuários criam perfis fakes com fotografias ou nicknames que não correspondem a realidade offline, ainda que existam perfis que se propõem "realistas", usando de suas identidades civis. Nesse sentido, reflito sobre as dinâmicas e usos da plataforma para compreender sociabilidades que transpõem fronteiras entre realidade e virtualidade, online e offline, falso e verdadeiro. Os eixos analíticos pensados na pesquisa demonstram um fluxo de interações que transpõem fronteiras entre as realidades digital e analógica e proporcionam encontro de perfis que se estabelecem no espectro entre os polos identitários divergentes e convergentes. O FetLife, portanto, pode ser compreendido como o epicentro de uma rede de sociabilidade que reúne universos/realidades, com fluxos e trajetórias que sobrepõem diferentes esferas. Dentro dessa rede de sociabilidades, estabeleço como fio condutor da pesquisa as práticas sexuais fetichistas, relações sadomasoquistas, a produção de sensações por meio das narrativas, a composição do corpo para essas práticas, bem como experimentações e transformações sexuais e eróticas.