Redes sociais da ABA:
GT 051. Performances e marcas da religião na cidade
Apresentação Oral em GT
Jean Souza dos Anjos, Antonio George Lopes Paulino
Tradição x Turismo: a Festa de Iemanjá de Fortaleza em processos de resistência
Registrada como Patrimônio Cultural Imaterial pelo município em 2017, a Festa de Iemanjá de Fortaleza passa por profundas transformações desde a ruptura entre grupos que a organizam, o que resultou na formação de dois polos: um na Praia do Futuro, onde a festa acontece há mais de 50 anos e outro na Praia de Iracema, que se configura há 6 anos, no dia 15 de agosto. Os dois polos disputam recursos públicos dos governos municipal e estadual. É importante entender que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Praia do Futuro é um dos mais baixos da cidade, comparado ao da Praia de Iracema, que é um dos mais altos. É na Praia de Iracema que se realiza o réveillon de Fortaleza e grandes eventos musicais. Enquanto um movimento de degradação ocorre na Praia do Futuro, outro movimento de exaltação acontece na Praia de Iracema. A quem interessam essas disputas? Por que o poder público não tem dado atenção especial à festa da Praia do Futuro, já que ela ocorre há mais tempo? Salientamos que no mesmo dia acontece a Caminhada com Maria, procissão alusiva à festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Assunção, evento que recebe todo um aparato institucional da prefeitura e é patrimônio cultural imaterial desde 2015, com apenas 15 anos de existência, por sanção da Presidência da República. Acompanhando a Festa de Iemanjá há 10 anos, percebemos que o poder público tem se voltado para transformá-la em um evento turístico religioso (a exemplo da festa da padroeira), com apoio de parte das associações de Umbanda. A Festa de Iemanjá de Fortaleza – que tem sido apontada como a sétima cidade mais violenta do mundo e de uma profunda desigualdade socioeconômica – pode ser refletida como uma metáfora da cidade dividida entre ricos e pobres em territórios demarcados pela pobreza e riqueza social. Estudos da Antropologia Contemporânea (Feldman-Bianco, 2010) nos ajudam a compreender conflitos e contradições nos territórios onde a festa acontece e o aporte teórico dos estudos sobre a cidade (Velho, 2013; Certeau, 2003) nos orientam a pesquisar no contexto urbano e adentrar aos significados de práticas e relatos de espaço. Perez (2011) nos indica que a festa é o reflexo de determinado sistema de relações econômicas e políticas e nos interpela a refletir em um exercício crítico epistemológico, filosófico e antropológico, de caráter interdisciplinar. À guisa de conclusão, temos percebido e somos afetados pela Festa de Iemanjá como um movimento de resistência, pluralidade, conflito, celebração e reinvenção do povo de terreiro de Fortaleza que, como as ondas do mar sagrado de sua homenageada, está se ressignificando para dar conta da continuidade da festa.