Redes sociais da ABA:
GT 051. Performances e marcas da religião na cidade
Apresentação Oral em GT
Jeferson Batista da Silva
Procissão, marcha e passeata: o ativismo cristão LGBT nas ruas da capital paulista
Entre o final de maio e início de junho de 2018, as ruas do centro de São Paulo foram ocupadas por eventos religiosos e eventos voltados para a população lésbica, gay, bissexual e transgênero. No dia 31 de maio, enquanto católicos celebravam o feriado de Corpus Christi com missa na Praça da Sé e procissão em ruas do entorno, multidão de evangélicos se concentravam a poucos quilômetros, na Estação da Luz, para a 26ª Marcha para Jesus. No mesmo dia, o Vale do Anhangabaú, também na região central paulistana, sediava a 18ª Feira Cultural LGBT. Na sexta, dia 01, foi a vez da 1ª Marcha do Orgulho Trans, no Largo do Arouche, percorrer as ruas. Estes dois últimos eventos foram realizados às vésperas da Parada do Orgulho LGBT, que, no domingo seguinte, reuniu milhões de participantes na Avenida Paulista. Procissão, marcha e passeata. Atores religiosos e atores LGBT nas ruas reafirmando identidades e buscando dar visibilidade à suas gramáticas. Eventos como estes quase sempre geram controvérsias públicas em torno de categorias que estão em disputa, como família, direitos e liberdades. Ao acompanhar tais controvérsias, a mídia, estudiosos e outros segmentos reforçam, em muitos casos, o enquadramento gay versus religioso. Novas configurações na cena religiosa brasileira mostram, contudo, um novo enquadramento: a compatibilidade em ser cristão e vivenciar sexualidades e gêneros dissidentes. Com esta consideração e contextualização, o foco deste work é refletir de que modo esta compatibilidade é performatizada e publicizada em espaços urbanos, gerando, claro, novas controvérsias em torno de um entre lugar ocupado por estes atores organizados e agregados nas igrejas inclusivas e nos grupos pastorais católicos pró diversidade sexual e de gênero. Especificamente, este work, a partir da etnografia do II Encontro de Católicos LGBT, que ocorreu em São Paulo entre 01 e 03 de junho, mostra que uma das marcas do encontro foi a participação dos católicos LGBT na parada LGBT, logo após a participação em uma missa celebrada na igreja São Luís Gonzaga, único templo católico da Avenida Paulista. Este evento serve como uma porta de entrada para mostrar outras atividades promovidas por ativistas cristãos LGBT na “praça pública”: ações de caridade, evangelização e sociabilidade (comuns entre comunidades religiosas convencionais), além de participação em manifestações, assembleias e passeatas (eventos historicamente ligados a movimentos sociais), tornando os “muros” da religião mais porosos e adentrando espaços públicos, supostamente seculares.