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GT 051. Performances e marcas da religião na cidade
Apresentação Oral em GT
Hermes de Sousa Veras
A festividade de Rei Sabá em São João de Pirabas: religião, cultura e outros compósitos
Todo dia 20 de janeiro em São João de Pirabas, celebra-se a festividade do Rei Sabá. A cidade está localizada no nordeste paraense, conhecida como região do salgado por ter suas águas banhadas pelo oceano atlântico. Rei Sabá, corruptela de Rei Sebastião, é uma entidade que pertence ao panteão dos encantados, seres que não conheceram a experiência da morte, e sim, transformaram-se em entes que possuem seu próprio território – a encantaria – e se manifestam, a partir dele e de outros agentes, no mundo da superfície, pois a encantaria está no fundo, sendo realidade oposta, e às vezes espelhada de nosso mundo. Por conta de sua história e multiplicidade, Rei Sabá tem em suas características aspectos do Rei Sebastião, personagem histórica portuguesa que desaparecera na batalha de Alcácer Quibir, em 1578 no Marrocos. Além de comungar com outras personagens, tais como São Sebastião, por serem palavras homônimas e por conta de sua comemoração ser também no dia 20 de janeiro pela igreja católica; e Oxóssi, por conta das aproximações e separações que já acontecem entre o santo e o orixá pelas religiões afro-brasileira. Portanto, no dia 20 de janeiro, mães e pais de santo, juntamente com a prefeitura e outros agentes públicos e outras organizações, mobilizam-se para a celebração, ocorrendo na Praia do Castelo, orla da Ilha da Fortaleza que fica há aproximadamente meia hora de barco, saindo da cidade de São João de Pirabas. O local onde ocorre a festividade não foi escolhido sem razão, nele encontra-se uma pedra outrora antropomorfa, aparentando uma pessoa sentada em posição de meditação. Esta pedra é tida vezes como o Rei Sabá, ou como a sua pedra, que não é mais antropomorfa por conta de obras feitas pela prefeitura, sendo inserida uma base de concreto na pedra para sustentá-la perante as intempéries do tempo e das águas. A ação acrescentou mais uma camada de significação à pedra. Além de sua materialidade vivenciada por afrorreligiosos e pescadores da região, a pedra também virou o Monumental Místico do Rei Sabá. Para a realização da festividade, dois tipos de discursos são produzidos: a festividade enquanto expressão da religiosidade popular ou pertencente à cultura da cidade, que se relacionam e se desdobram em muitos outros. Na véspera da comemoração, autofalantes transitam em veículos motorizados, anunciando a festa enquanto expressão da religiosidade popular, da cultura e da história da cidade. A partir de work de campo realizado no início de 2018, trago aspectos da performatização da festividade empreendida por religiosos e agentes públicos. O objetivo é pensar como são construídas diversas cidades, públicos e imagens, levando em consideração o entrelaçar de agenciamentos entre encantados, seus territórios, os agentes públicos e os afrorreligiosos.