Redes sociais da ABA:
GT 048. Novas perspectivas para o estudo das religiões de matriz africana nas Américas
Apresentação Oral em GT
Barbara Pimentel da Silva Cruz
Confluências no Terecô de Codó/MA
O terecô, religião de matriz africana presente em Codó/MA, forma um conjunto heterogêneo de tendas lideradas por pais e mães de santo que cultuam os encantados da mata. Na literatura antropológica de religiões no Maranhão predominam as análises sobre o tambor de mina praticado na capital do estado, de modo que essa vertente frequentemente opera como sobrecodificadora em relação ao terecô. Este work objetiva uma descrição do que identifiquei como uma troca de fluxos em níveis variados (entre pessoas, grupos, práticas, forças, casas, vertentes religiosas, entidades) que informa uma composição que não pressupõe síntese. Nada disso implica na ausência de conexões com outras vertentes, de modo que outros contextos etnográficos podem compor reflexões sobre e a partir do terecô, em termos que não em relação verticalizada. A própria dinâmica do terecô em Codó parece abrir para outras possibilidades de encontro entre diferenças, em um exercício de composição. O presente work trata de evitar as referidas sobrecodificações e tomar como ponto de partida as interações entre diferenças levadas a cabo no contexto do terecô. Neste sentido é que se apresenta uma proposta de leitura a partir de dois "mecanismos" percebidos nos toques de tambor da mata: 1) as viradas entre a mina e a mata e 2) a presença do vodum Verequete na abertura dos festejos grandes das tendas de Codó. No primeiro caso, de tempos em tempos o ritmo dos tambores vira da mata, ritmo mais acelerado e característico dos toques de terecô, para a mina, mais cadenciada e referenciada nos terreiros de tambor de mina da capital, São Luís. No segundo caso, invoca-se o vodum Verequete durante o Louvariê, embora ele não costume baixar nos terreiros codoenses. Sua função, conforme me explicou a mãe de santo Teresinha, é a de "organizar as correntes". Esses "mecanismos" oferecem chaves para pensarmos as formas de "operacionalização" de uma interação entre diferenças que permanecem enquanto tais ou, nas palavras de Antonio Bispo dos Santos (2015), de uma forma de colocar as coisas em relação que ajunta sem misturar.