Redes sociais da ABA:
GT 048. Novas perspectivas para o estudo das religiões de matriz africana nas Américas
Apresentação Oral em GT
Emília Guimarães Mota
Candomblé em Goiás - movimentos de chegar, reconhecer e se relacionar
Diferente de Goiás, outros estados brasileiros apresentam casas de candomblé bastante reconhecidas, seja entre afrorreligiosos seja através dos estudos acadêmicos. A Iyalorixá Watusi, minha mãe de santo e principal interlocutora, afirma que esse possível desconhecimento sobre candomblé goiano se deve ao fato de a história dele ser recente, quando comparado à Bahia ou Rio de Janeiro. História que remonta o final da década de 1960, quando Pai João de Abuque chegou na capital, Goiânia, trazendo o candomblé de nação angola. Outro marco importante aconteceu no início da década de 1990, quando Pai Djair chegou na cidade e abriu a primeira casa de candomblé ketu. Também apresentou-se como descendente do Axé Oxumarê, da linhagem que partiu da casa de Salvador (BA) rumo ao Rio de Janeiro. Ancorada nestas duas referências do candomblé goiano e nas experiências dos afrorreligiosos em Goiás, a proposta deste work, que é parte de meu mestrado e tem cunho etnográfico, é colaborar com os conhecimentos sobre essa religião de matriz africana, seus movimentos e variações. A chegada tem sido uma maneira de falar sobre as trajetórias do candomblé, desde a chegada dos povos que permitiram sua formação, à chegada dele aos outros estados brasileiros. Em Goiânia é termo recorrente. Segundo Iya Watusi, depois da chegada de Pai João e Pai Djair, outros afrorreligiosos continuam chegando com a intenção de construir seu espaço e nome na religiosidade. Assim, a referência do Axé Oxumarê é muito presente no estado mas nem sempre através da linhagem de Pai Djair. Saber de onde veio, de quem é filha/o, quais são as famílias com as quais mantem relações, são pontos importantes para o estabelecimento de outras, para aquela/e que acaba de chegar. Os movimentos de chegar abrangem mudanças de nação, mudanças de Axé, e provocam diferentes modos de se relacionar, de práticas de reconhecimento, de mecanismos que visam precaução e o estabelecimento de fronteiras, de alianças, entre os afrorreligiosos. A partir das chegadas será possível falar e refletir sobre os temas citados, os conceitos que os agenciam e criam, como axé, nação, marmoteiro, que podem variar seus sentidos a cada situação prática cotidiana. Para pensar a presença do Axé Oxumarê, seguiremos a análise de Iya Watusi sobre as influências de valores mercadológicos porque passa a religiosidade provocando mudanças de sentido que o Axé de referência de um filho de santo e/ou casa pode adquirir. Classifica como um regulador, que corrobora com um processo de homogeneização, com a perspectiva de um candomblé pop, de candomblé ostentação.