GT 048. Novas perspectivas para o estudo das religiões de matriz africana nas Américas
Apresentação Oral em GT
Andréa Silva D'Amato
Babá-Eguns, imagens e outras forças no terreiro de Omo Ilê Agboulá (Itaparica/ BA)
A experiência etnográfica a que se propõe esta pesquisa tem lugar no pequeno povoado do Alto da Bela Vista, localizado na praia de Ponta de Areia, município de Itaparica, no estado da Bahia. Particularmente, envolve os moradores do entorno do terreiro Omo Ilê Agboulá e seu culto aos ancestrais, conhecidos como Babá-Eguns. Por meio de fotos e documentos diversos, tanto de acervos pessoais como de arquivos públicos, a ideia é compartilhar aspectos de minha interlocução com anfitriões e frequentadores do terreiro sobre memórias, histórias e presenças acionadas por essas imagens. As potencialidades de associação entre o fazer etnográfico e as possíveis narrativas geradas por intermédio das fotografias permeiam a pesquisa.
A representação ancestral cultuada nos terreiros de Babá-Egum são manifestações materiais de uma força invisível que se faz presente aos olhos. Assim como as fotografias atestam com sucesso a ausência do que elas fazem presente, os Babá-Eguns necessitam da corporificação, por meio do opá, a casa-roupa sagrada, para adquirir uma forma e visibilidade. Nos dois casos, a ausência visível é transformada em uma nova forma de presença. Neste paralelo, situado entre vida e morte, presença e ausência, mobilizados tanto nos cultos, como nas fotografias, reside o ponto de interesse do work. Como em um ato ritual, as fotografias contêm seus mistérios, participam de agenciamentos, enredos, e este parece ser o grande desafio que as imagens colocam para a pesquisa etnográfica.
Os arquivos discordam de sua própria preeminência de serem incontestes, de serem o espaço de um tempo remoto. É justamente nesse universo fugaz de verdades relativas que este estudo se instaura, revisitando arquivos, conferindo-lhes novos usos e sentidos, sugerindo outros ordenamentos, cruzando fronteiras porosas para criar movimentos de articulação em que fotografias do passado possam vir a ser também as imagens para o futuro, buscando outros sistemas de relações, capazes de renovar percepções na elaboração de trajetos ligados à memória que traduzam formas distintas de apropriação dos percursos históricos.