GT 040. Fronteiras, saúde, gênero e sexualidade: conexões, deslocamentos e alteridades corporais, espaciais, temporais
Apresentação Oral em GT
Thiago de Lima Oliveira
NAS FRONTEIRAS DA EPIDEMIA? articulações e desarticulações para pensar práticas de conhecimento e circulações transfronteiriças na Amazônia
Os últimos anos têm sido marcados por intensas transformações nas tecnologias biomédicas para tratamento do hiv, cotejando inclusive uma certa atmosfera da qual participam expectativas públicas nomeadas como “cura”, “última década”, ou mesmo “fim da aids”. Esse cenário é configurado pelo fluxo de circulação global de informações e tecnologia, uma rede de que participam agentes com status e interesses desproporcionais e divergentes; é também contrastado, nos limites de uma política nacional de saúde no Brasil, pelo processo de desmonte e fragilização do serviço de atendimento público, especialmente os de nível básico – com repercussão em pautas extens(iv)as na saúde pública-, pelo crescente avanço de pautas comprometidas com conservadorismos e dispositivos de controle sobre corpos e experiências de gênero e sexualidade ordenados sobre outras gramáticas, bem como a desarticulação de frentes combativas de atuação e debate que constituíam uma contraparte importante da reflexão aprofundada sobre políticas regionais de saúde. Na arena todas essas questões parece um pouco simplório sinalizar para os regimes de distinção e as economias de continuidade e descontinuidade que configuram as experiências de viver com hiv em contextos “descentrados”. Parece, mas talvez não seja. Considerando o modo como tais discussões circulam a partir de e entre grandes centros urbanos de uma economia farmacopolítica, pode ser interessante retomar os debates sobre a “interiorização” dos processos de sofrimento social, em especial do hiv em vista de sua posição para construção dos debates sobre os limites, fronteiras e zonas de expansão das políticas sexuais. A presente comunicação tem como propósito estabelecer um investimento descritivo e analítico sobre as práticas de conhecimento e formas de reflexão política sobre a experiência de viver com HIV em contextos transfronteiriços. Em tais espacialidades, as dinâmicas de diálogo com as políticas de saúde se realizam articulando múltiplos eixos de negociação com/contra o Estado propiciadas pela possibilidade de circulação entre limites nacionais, e a construção de redes de comunicação e articulação a partir de relações complexas com outros agentes. A partir da experiência etnográfica que venho desenvolvendo na região de tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, na comunicação busco apresentar algumas reflexões sobre o modo como sentidos de saúde, pessoa e cidadania se flexibilizam e constituem-se na circulação transfronteiriça a partir também da articulação de eixos de construção de diferença em termos de raça, cor de pele, língua, pertencimento étnico e/ou nacional, gênero e sexualidade que conferem sentido e valor à avaliação relacional da presença e da precariedade de si e do outro.