Redes sociais da ABA:
GT 040. Fronteiras, saúde, gênero e sexualidade: conexões, deslocamentos e alteridades corporais, espaciais, temporais
Apresentação Oral em GT
Asher Grochowalski Brum Pereira
Espiritualidade, subjetividade e doença: experiências com o HIV
Paul Beatriz Preciado, em Testo Junkie, analisa o regime heterossexual como uma extensão da sociedade biopolítica no qual se produzem protocolos farmacológicos para a normatização dos corpos. São exemplos disso as normas para a autoadministração de testosterona para a mudança de gênero e o tratamento com antirretrovirais contra o HIV. Partindo do suposto formulado pelo autor, propomos analisar como o cultivo da espiritualidade pode configurar-se em alternativa ao protocolo farmacológico para o tratamento de doenças. Nossa hipótese é que o cultivo de determinados tipos de espiritualidade produz subjetividades que ressignificam a doença, tal como é exposta pelos saberes médicos e farmacêuticos. Com efeito, observaremos o relato e a trajetória de Kevin, um jovem gay que, ao descobrir-se portador de HIV, começou a autoadministração do tratamento antirretroviral. Ao começar a questionar a eficácia do tratamento protocolar, procurou na sociedade esotérica autodenominada Ordem Rosa Cruz uma alternativa de cura para o HIV. Desse modo, por meio de descrições empíricas, procuraremos demonstrar como a subjetividade de Kevin se modifica em seu trânsito por ambientes médicos do SUS (Sistema Única de Saúde) e pelo templo Rosa Cruz. Ao descobrir-se portador de HIV, Kevin começou o tratamento antirretroviral e frequentava regularmente o SAE (Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids), na cidade de São Paulo, para fazer o controle de sua “carga viral” e, desse modo, regular a administração da medicação antirretroviral. Quando começou a frequentar a Ordem Rosa Cruz, encontrou nas meditações uma forma de espiritualidade que se concentrava no próprio corpo e no alívio (e mesmo eliminação) da doença. Portanto, nosso intuito é abordar a interação entre espiritualidade, subjetividade e doença e, desse modo, compreender formas de contraconduta dentro do regime farmacológico de governo dos corpos.