GT 040. Fronteiras, saúde, gênero e sexualidade: conexões, deslocamentos e alteridades corporais, espaciais, temporais
Apresentação Oral em GT
Amanda Raquel da Silva
A cor da relação: corpo e afetividade de mulheres negras em um bairro de Natal/RN
Este work apresentará resultados de uma pesquisa de mestrado que busca etnografar e analisar as experiências erótico-afetivas de mulheres negras brasileiras, mais precisamente residentes na cidade de Natal/RN. Me interessa explorar de que forma a expressão dos afetos e a construção de relações erótico-afetivas estão relacionadas com a dimensão racial. As interlocutoras da pesquisa são mulheres negras residentes num bairro considerado periférico na cidade, entre cinquenta e setenta anos de idade. Logo, esse work trará à tona um aspecto que não tem sido frequentemente tratado em estudos que tomam como cerne o tema da raça no Brasil, a afetividade. Com isso, o work reconhece que também a construção subjetiva das relações afetivas carrega as marcas da história de dominação e subalternização das pessoas negras no país, mas reconhecemos pouco que as escolhas sexuais e os arranjos erótico-afetivos também são parte desse processo histórico. Sendo eu, mulher negra jovem trabalhando na função de Agente Comunitário de Saúde, cargo criado pelo Sistema Único de Saúde como tentativa em melhorar as condições de saúde de comunidades consideradas carentes; se torna inevitável um contato maior com populações negras, maioria populacional de tais localidades. A aproximação com as interlocutoras da pesquisa se deu através das minhas visitas como ACS, quando frequentemente são as mulheres que trazem demandas e preocupações acerca da saúde própria e de seus familiares. Assim, a dimensão da saúde tornou-se fundamental na pesquisa, não apenas como porta de entrada para iniciar as conversas, mas como eixo ao redor do qual muitas dos relatos afetivos dessas mulheres são organizados e explicados. Apesar do foco inicial das conversas ser as situações de saúde, aos poucos essas se aprofundaram em temas afetivo-sexuais de suas trajetórias, desde juventude até os momentos atuais. Assim, sexualidade e recorte etário se tornam também marcadores chaves de análise, o que também demanda um olhar atento e cuidadoso sobre as dimensões do envelhecimento. Ainda, algo que aparece em campo é a frequência de discursos que podem demonstrar uma “hiperginecologização” dos corpos dessas mulheres, quando ao falarem sobre suas trajetórias afetivas utilizam como ponto de partida a condição de saúde reprodutiva de seus corpos.