GT 011. Antropologia da Moral e da Ética
Apresentação Oral em GT
Pedro Henrique de Oliveira Germano de Lima, Ligia Barros Gama Roberta Bivar Carneiro Campos
Objetos morais na constituição da pessoa no Xangô de Recife
Buscamos nesse artigo compreender e analisar o processo de constituição da pessoa religiosa no xangô pernambucano dando ênfase ao modo de participação que existe entre pessoa e coisas, doravante analisadas como objetos morais.
O xangô é uma religião de participação. Nesse ambiente tudo participa de/com tudo, mas os modos e as intensidades de participação é que fazem distinguir uma pessoa da outra. Esta religião como conhecemos com base em work de campo é estruturada por forças místicas, estas são os orixás, antepassados chamados eguns e o odum (espécie de destino de cada membro) que é relacionado ao orixá. No plano social, existe uma miríade de coisas materiais que dão sentido pragmático à componencial mística. Estas coisas materiais/ objetos morais constrangem, restringem ou ampliam as participações e hierarquizam a complexa malha de pessoas presentes na religião, o que nos leva a compreensão de que objetos funcionam como códigos normatizadores e hierarquizadores de enquadramento da pessoa na religião e da sua constituição. Entendemos que a pessoa é constituída por suas relações e no processo de constituição todo e qualquer membro se relaciona não apenas com os deuses, mas também com as materialidades do sagrado que carregam a força dos deuses ou que são os próprios deuses. O sangue, fio de contas, roupas e assentamentos são alguns exemplos de objetos morais com os quais as pessoas participam. Estes objetos por carregarem a força do sagrado são elementos disciplinadores da religião. A adesão ao grupo implica na submissão a força do sagrada presentificada não apenas nas pessoas, mas também nestes objetos. Por entendermos que as materialidades são agentes, buscamos discutir na comunicação em tela o modo pelo qual as forças morais se materializam no sangue, fio de contas e nos assentamentos.
Compreendemos a partir do princípio durkeimiano que toda força moral é um amplo sistema de interdições, que este não se sustentaria em abstrações. Sem as materializações à força do social (social é a própria religião) se perderia em abstrações. A força precisa se materializar. No caso do xangô antes de se materializar nas pessoas, ela se faz presente nos objetos morais que ordenam e constituem a religião como um todo. Desse modo buscamos analisar e compreender como é que nas participações com os objetos as pessoas se constituem. Operamos desse modo coadunados com a proposta de Webb Keane em repensar a religião (em nosso caso o processo formativo da pessoa religiosa) a partir da moralidade como uma semiótica que nos permite compreender a relação que existe entre materialidade, moralidade, ética e ideias religiosas.