GT 011. Antropologia da Moral e da Ética
Apresentação Oral em GT
Lorena Mochel Reis
Entre igrejas e aplicativos: sobre virtudes e virtualidades entre um grupo de mulheres pentecostais
No quadro de disputas e reinvenções no interior do cenário religioso pentecostal brasileiro, o que escapa ao tecido institucional das igrejas tem servido como mais um espaço para a análise das experiências religiosas na cidade. Os arranjos produzidos por lideranças femininas ajudam a compreender algumas destas diferentes formas nas quais vêm se organizando a circulação de pedagogias produzidas e voltadas para mulheres neste contexto, sobretudo no que diz respeito às possibilidades de transformação na centralidade histórica e contextual da autoria religiosa masculina. O presente work busca analisar como noções sobre corpo, gênero e moralidades sexuais circulam entre mulheres que fazem parte de um grupo predominantemente feminino, nomeado como "Mulheres Graciosas" por seus líderes, um casal formado por uma pastora e um pastor que se autodenominam pastores voluntários de uma igreja de grande destaque nacional. É sobretudo através da figura da pastora que categorias como "autoestima" e a ideia de uma sexualidade marital "saudável" configuram pedagogias eróticas e maritais que são acessadas por meio de "campanhas" virtuais periódicas, com o objetivo de aprimorar a intimidade feminina com Deus através de sacrifícios como jejum e oração. Em geral, as fiéis são frequentadoras de diferentes igrejas pentecostais distribuídas pelo país e, de forma concomitante, também acompanham a circulação da pastora, utilizando um grupo de whatsapp homônimo como principal meio de comunicação neste intercâmbio. É principalmente através do aplicativo que elas compartilham pregações diárias via mensagem de áudio e texto, sendo incentivadas a aprender a orar e perder seus medos, vergonhas e inseguranças para interagir através do envio de orações simultâneas às mensagens de áudio e texto da Pastora, principal liderança deste coletivo. Atravessando questões que envolvem sensibilidades éticas (Hirschkind, 2006) relacionadas ao uso coletivizado da tecnologia virtual como importante mediadora entre sagrado e secular, estes fluxos de intimidades religiosas acionam debates metodológicos para mapear moralidades e sociabilidades que trafegam entre online e offline, igrejas e aplicativos. Faz-se importante, nesse sentido, compreender os modos como o ideal de self virtuoso (Mahmood, 2005) mediados pelas virtualidades em questão produzem significados às experiências pentecostais femininas urbanas. Estas e outras categorias empíricas fundamentais na organização do trânsito entre essas fronteiras apontam para tensões nos debates entre estudos feministas e da religião, sobretudo para refletir sobre afetos e agências que não se incluem nos ideais ocidentais de autonomia e liberdade.