GT 011. Antropologia da Moral e da Ética
Apresentação Oral em GT
Cleonardo Gil de Barros Mauricio Junior
Crente também é cidadão: os evangélicos e a constituição ética de si na relação com o político
Este work tem como objetivo compreender a forma como jovens crentes pentecostais constituem a si mesmos como sujeitos éticos diante de um código moral, compartilhado por sua comunidade de fé, que exige dos fieis uma conduta diligente e inequívoca na esfera pública a respeito de temas como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na esteira de eventos que tem colocado em rota de colisão as igrejas pentecostais e os movimentos sociais, pastores como Silas Malafaia têm exortado os evangélicos a se posicionarem a respeito de temas que se contraponham à moral cristã em seus locais de work, estudo, em sua vizinhança, etc. “Crente também é cidadão”, repete Malafaia, e por isso não deve hesitar em se posicionar.
Como os crentes ordinários têm assumido, então, esse dever moral de participarem de debates políticos em suas vidas cotidianas? Meu principal interesse é compreender como eles e elas têm atrelado essa moral baseada em um posicionamento político diligente a uma ética do testemunho, ou seja, a uma postura proselitista que tenta convencer quem está ao seu alcance a tornar-se também evangélico. “Falar de Jesus” para os seus colegas de universidade ou work parece exigir uma postura de acolhimento, diferente da prontidão para o confronto requerida em um debate onde o tópico levantado seja, por exemplo, a descriminalização das drogas. Como os evangélicos negociam e julgam sua constituição como cristãos em meio a essas posturas aparentemente divergentes?
Meus dados baseiam-se em work de campo realizado na sede nacional da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, a igreja do pastor Silas Malafaia, no bairro da Penha, no Rio de Janeiro. Os jovens de sua igreja criaram o Universe, grupo formado para discutir os obstáculos enfrentados pelos evangélicos para vivenciar a plenitude da vida cristã na universidade. Os jovens crentes universitários reuniam-se para discutir qual a melhor postura nos momentos de discussão de temas chave na universidade, bem como investiam tempo em aprender os melhores argumentos a serem utilizados nessas ocasiões. Intrigantemente, não usar a bíblia, mas argumentos científicos era a principal estratégia veiculada. Alternar a gramática dos argumentos do registro bíblico para o científico, portanto, tornou-se uma das virtudes indispensáveis à vida cristã plena.
Como, então, a constituição de um sujeito religioso informa o exercício de uma cidadania política (ou de uma ética pública)? É, portanto, com essa pergunta em mente, e a partir de minha observação participante nas reuniões do Universe, como também com as entrevistas em profundidade realizadas com seus membros, que pretendo trazer minhas contribuições para o debate a respeito da relação entre pentecostalismo e esfera pública no Brasil.