GT 009. Antropologia da Criança: conjugando direitos e protagonismo social
Apresentação Oral em GT
Avelina Oliveira de Castro, Avelina Oliveira de Castro Maria Angelica Motta-Maués
Vivências de crianças e adolescentes no Marajó: sexualidade, gênero e relações de colonialidade.
Este artigo é resultado de uma pesquisa ainda em desenvolvimento que visa identificar, e interpretar, antropologicamente, narrativas de crianças e adolescentes (além de adultos) moradores do município de Breves, no Arquipélago do Marajó, sobre as múltiplas ideias e vivências de sexualidade entre crianças e adolescentes, sejam estas construídas, afetivamente, em relações de namoro, casamento e outras formas de enlaces, ou em situações de violência e exploração. O material aqui apresentado é parte da pesquisa de doutorado da autora, que tem realizado work etnográfico na sede do referido município, desenvolvendo como metodologia, a observação direta e participante, interagindo com os interlocutores, por meio da elaboração de desenhos, rodas de conversa, entrevistas, conversas informais e observação das interações sociais, analisadas sob a perspectiva de gênero. A partir das observações realizadas até aqui, chamo para diálogo para realização de minha análise, referenciais teóricos do feminismo e dos estudos de colonialidade que nos possibilitam inferir que as vivências dessas meninas estão atravessadas, historicamente e culturalmente, entre outras matrizes intervenientes, por uma relação de colonialidade que o município (não isoladamente) possui com a capital do Estado, Belém, para a qual tem desempenhado um papel de fornecedor de matérias-primas, da flora e fauna, mas também humanas, da gente marajoara que vem, secularmente, trabalhar na cidade, muitas vezes em verdadeiro regime de ‘servidão’, em que a personagem que melhor encarna esse regime é a menina, a chamada “cria de família”, que em muitos casos é abusada sexualmente pelos patrões e filhos destes. Além disso, tem-se observado na região também situações em que as meninas estão submetidas em uma rede de exploração sexual existente na orla do município (e arquipélago), fenômeno que tem as denominado de “meninas balseiras”. Além disso, há ainda situações diversas em que em relações de namoro, as meninas são entregues por suas famílias aos meninos quando engravidam destes. Todas essas realidades chamam a atenção porque possibilitam visualizar uma relação de colonialidade, não só de saber e de poder, mas também em uma forma que estou aqui chamando de “colonialidade de corpos”.