Redes sociais da ABA:
GT 009. Antropologia da Criança: conjugando direitos e protagonismo social
Apresentação Oral em GT
Denize Refatti
Os sonhos das crianças: circulação de saberes e a concepção de infância indígena através da participação na experiência onírica Ava-guarani.
O work apresentado tem como objetivo principal, descrever as relações existentes entre os sonhos e os Ava-guarani da aldeia indígena Ocoy, em São Miguel do Iguaçu – Paraná, partindo do princípio de que os sonhos são compreendidos, vivenciados e interpretados de diferentes maneiras relacionadas aos contextos sócio-culturais, portanto, busca-se discutir principalmente sobre o modo como as crianças Ava-guarani se relacionam com este universo onírico. Apresento uma breve discussão sobre a infância indígena e sobre o modo como as crianças são iniciadas na experiência do sonhar, a partir da analise de desenhos e de narrativas oníricas feitas pelas crianças do Ocoy, durante minha pesquisa de mestrado em antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina PPGAS/UFSC. Destaca-se ainda que experiência onírica pode ser entendida enquanto fonte de conhecimento, uma vez que a atividade de sonhar para os guarani é algo que se aprende e se ensina, ou seja, a experiência onírica é também um processo importante de transmissão de saberes, iniciado ainda na infância uma vez que, as crianças ouvem e aprendem sobre estas técnicas e intepretações dos sonhos desde cedo e igualmente são estimuladas a contar seus sonhos e a escutar com atenção quando alguém está fazendo a narrativa de um sonho. Nesse sentido, ao entrarem em contato com o universo onírico as crianças também são inseridas nos processos de conhecimento guarani, já que sonho também é utilizado como instrumento no qual é possível tomar conhecimento do sagrado, aprender sobre músicas, cura de doenças, e os perigos aos quais são expostos, sejam estes do mundo físico ou espirituais. Este modo legitimo de conhecimento ocorre no tempo de cada criança, e do mesmo modo que elas não são excluídas do universo dos sonhos, elas também não são pressionadas a falar sobre eles, afinal, trata-se de um processo que ocorre espontaneamente e, à medida que a criança começa a demonstrar interesse pelos seus sonhos, recebe grande incentivo de seus familiares para se dedicar aos conhecimentos que cercam o universo onírico.