Redes sociais da ABA:
GT 009. Antropologia da Criança: conjugando direitos e protagonismo social
Apresentação Oral em GT
Veronica Monachini de Carvalho
Kagaiha etü: o lugar não indígena e a circulação das crianças Kalapalo
Esta comunicação visa refletir sobre o direito das crianças indígenas da etnia Kalapalo, do Alto Xingu/Mato Grosso, a terem acesso à cidade - bem como suas diversas implicações - como uma reivindicação vinda delas mesmas enquanto protagonistas sociais. Em julho de 2018 a prefeitura de Querência - MT abriu uma estrada que conecta esta cidade à aldeia Kalapalo, por requisição dos próprios indígenas. As crianças, minhas principais interlocutoras, em todo o processo de abertura da estrada demonstraram muito interesse e curiosidade nas novas possibilidades de caminhos, que foram desde a longa descida do rio – caminho utilizado em minhas primeiras idas a campo -, passando por uma difícil, porém rápida, trilha de moto – aberta por facão e motosserra por seus pais -, até a então abertura oficial da estrada, já cotidianamente utilizada por não-indígenas e indígenas de diversas etnias do Território Indígena do Xingu. Toda a comunidade da aldeia Kalapalo e das aldeias da região estiveram mobilizadas neste processo, o que – evidentemente – envolveu diretamente as crianças. Em nossas conversas elas relataram o fato como uma grande conquista, apesar de toda a polêmica que pode envolver a abertura de uma nova estrada, que torna a aldeia acessível não só para os indígenas, mas por possíveis não-indígenas que poderiam utilizar a abertura de forma inadequada. As crianças costumam ir para esta cidade com uma certa frequência, normalmente acompanhando os pais a cada dois meses para acessar benefícios sociais de transferência de renda. Estas idas e vindas envolvem diversos desejos e expectativas, que fazem com que as crianças Kalapalo se façam presentes na cidade, e serão exploradas ao longo desta exposição.