Redes sociais da ABA:
GT 009. Antropologia da Criança: conjugando direitos e protagonismo social
Apresentação Oral em GT
Hélder Pires Amâncio
Da casa à escola e vice-versa: Experiência de investigação etnográfica com crianças em Maputo
Nos últimos anos têm crescido significativamente os investimentos na investigação com crianças, que deriva da reconceptualização da infância e consideração das crianças como atores sociais (FERNANDES, 2005, p.VII). Entretanto, esse tipo de investimentos ainda é muito escasso em África (WELLS, 2015), particularmente em Moçambique, salvo raras exceções (COLONNA, 2011; 2012; 2014; PASTORE, 2014; AMÂNCIO, 2016). Neste GT sobre Antropologia da Criança, pretendo partilhar a minha experiência de pesquisa com crianças, realizada em Maputo. A mesma envolveu crianças de seis anos de idade, que frequentavam uma turma da primeira classe (equivalente à primeira série no Brasil) em uma escola pública, localizada no bairro do Infulene, na periferia de Maputo, em Moçambique. O meu principal objetivo da pesquisa foi compreender as experiências de início escolar na perspectiva dessas crianças. Procurei compreender junto delas, durante aproximadamente quatro meses, entre fevereiro e maio de 2015, o significado de ir à escola e ser criança na perspectiva delas e como elas construíam sua relação com a escola. Esse novo espaço que passaram a frequentar e que ocupa uma parte significativa dos seus tempos, durante cinco dias úteis da semana e por aproximadamente nove meses do ano. Não obstante a exiguidade do tempo para a realização do work etnográfico, a pesquisa seguiu “uma perspectiva não escolar no estudo sociológico da escola” proposta por Marília Sposito (2003), na tentativa de captar o contexto mais amplo de vivência cotidiana e educativa das crianças para além da escola. Da turma observada faziam parte quarenta e seis crianças das quais, dezassete meninas e vinte e nove meninos. Desse total, acompanhei com alguma minúcia o cotidiano e rotina de dez crianças, cinco meninas e igual número de meninos. A investigação através da etnografia centrada nas crianças dentro e fora da escola permitiu compreender que as crianças gostam do espaço escolar. Porém, gostam dele não só porque nele aprendem a ler e a escrever, mas, sobretudo, porque a escola junta amigos, colegas e, proporciona momentos e tempos para lanchar, brincar e jogar, bem como, cria oportunidades de libertação do controle dos adultos. A escola mostrou-se como um espaço de fronteira na perspectiva apresentada por Antonella Tassinari (2001), pois, ao discorrerem sobre ela, as crianças falam também de suas vidas, das suas amizades, do ser criança, do brincar e aprender, entre outras coisas. É entre todas essas coisas que a escola se localiza, como espaço de limites e possibilidades.