Redes sociais da ABA:
GT 009. Antropologia da Criança: conjugando direitos e protagonismo social
Apresentação Oral em GT
Fábio Accardo de Freitas, Ana Lúcia Goulart de Faria
A luta pela terra e experiência de infância em um acampamento de reforma agrária
O presente texto tem como objetivo compreender a maneira pela qual as crianças Sem Terrinha do acampamento Elizabeth Teixeira, em Limeira-SP, além de sujeitos testemunhas passam a ser protagonistas da luta pela terra. A pesquisa teve como espaço e tempo de observação as atividades da Ciranda Infantil, entre 2010 e 2014, entendido como um dos poucos espaços de encontro do coletivo de crianças no acampamento. Compõem o acampamento cerca de 60 crianças de 0 a 12 anos, filhos e filhas das 100 famílias que lá vivem. A terra foi ocupada em abril de 2007, foram despejados/as violentamente em novembro do mesmo ano e voltaram a reocupar a terra em dezembro. Após onze anos vivendo embaixo da lona preta, a área foi afirmada como de interesse social e o acampamento está prestes a se regularizar. As crianças vivenciaram todo esse processo. Elas contam as lembranças da ocupação, dos fatos marcantes do despejo e da reocupação. Elementos e memórias que se transformam em brincadeiras na Ciranda Infantil. Se num primeiro momento o espaço do acampamento era o lugar compartilhado de vivência das crianças entre elas, no processo de reorganização interna da área, decidiu-se pelos lotes individuais, fato que impactou na relação entre as crianças, tornando-se evidente o afastamento do convívio coletivo e cotidiano entre elas. A Ciranda Infantil, a partir desse contexto, tornou-se um dos poucos espaços de vivência do coletivo infantil do acampamento. Lugar em que a maioria das crianças podiam se encontrar, brincar, discutir, aprender, etc, enfim, produzir as culturas infantis (Fernandes, 2004) participando da construção da realidade social. As questões aqui colocadas são provenientes do work educativo e investigativo realizado por Freitas (2015) com as crianças Sem Terrinha em um acampamento de reforma agrária. Reflexão e prática em que as crianças foram modificando o olhar do pesquisador, apresentando as suas realidades e se colocando como ativos/as pequenos/as sujeitos no mundo e da construção e resistência daquele acampamento. Ao reconhecer as crianças como sujeitos, pode-se observar suas produções de significados e interpretações do mundo, como cultura infantil produzida entre elas através das brincadeiras e atividades realizadas na Ciranda Infantil. Os processos vivenciados pelas crianças são foco deste texto, que tem como fundamento e pano de fundo as observações e relatos das atividades com as crianças proveniente do exercício etnográfico do pesquisador, o qual coloca em evidência seus pontos de vistas, que possibilitam falarem de si e de suas experiências de infância no acampamento, assim como das possibilidades de transformação da realidade em que vivem, da luta por direitos e de sua constituição como sujeitos e protagonistas da história e da luta pela terra.