GT 002. A contribuição da perspectiva antropológica sobre o uso de substâncias psicoativas para o debate atual em torno das
Apresentação Oral em GT
Bruno Pereira de Castro, Elaine Reis Brandão.
Uso de medicamentos nootrópicos para aprimoramento cognitivo: análise socioantropológica do blog “Cérebro Turbinado”.
O consumo de substâncias com o propósito de aprimorar a performance de processos mentais/neurocognitivos (memória, concentração, estado de alerta) tem objetivos específicos que, em grande medida, residem na expectativa de se obter melhor desempenho em tarefas acadêmicas e profissionais. As chamadas “smart drugs” ou fármacos nootrópicos têm se expandido entre jovens mediante disseminação pela internet. O work se propõe analisar a difusão do uso de medicamentos para aprimoramento cognitivo em blog nacional especialmente voltado para esse fim, designado “Cérebro Turbinado”. Esta pesquisa se insere nos marcos teórico-metodológicos das Ciências Sociais em Saúde, adotando uma perspectiva socioantropológica. A metodologia adotada foi a pesquisa documental, baseada em materiais de divulgação científica sobre uso de medicamentos nootrópicos e “smart drugs” para aprimoramento cognitivo. O material empírico compreende o conteúdo divulgado no blog “Cérebro Turbinado”, criado em 2015 por um estudante de medicina de uma universidade pública, além de reportagens sobre o tema em mídias de grande circulação nacional. O blog analisado funciona como um meio para a propagação de saberes biomédicos entre público leigo, reunindo conhecimentos sobre psicofarmacologia e neurociências. Nele, os nootrópicos são apresentados como opções mais acessíveis, seguras e igualmente eficazes frente aos medicamentos psicotrópicos utilizados como “smart drugs”. Editor e leitores se voltam para produção de um saber coletivo sobre o uso dessas substâncias para otimização do desempenho cerebral, a partir de suas experiências pessoais com o uso destes fármacos. A análise dos dados evidenciou a exposição de dúvidas quanto à eficácia e risco dessas intervenções farmacológicas, assim como questões sobre ajustes posológicos e interações medicamentosas. Ao tratar de consumos off-label, os usuários são, em grande parte, jovens universitários e estudantes em preparação para concursos públicos e vestibulares. Na esteira dos processos de (bio)medicalização e farmacologização da sociedade, o compartilhamento de práticas e conhecimentos sobre tais substâncias aponta para a incorporação de discursos de verdade fundamentados nos saberes biomédicos e para a produção de novas formas de subjetividade baseadas na compreensão neuromolecular do cérebro, entre metáforas que visam tornar compreensíveis os mecanismos de ação e a eficácia dessas substâncias. As racionalidades que direcionam a gestão dos usos desses medicamentos evidenciam as perspectivas trazidas pelos potenciais usuários e desafiam as instâncias de controle normativo do cuidado em saúde, além de revelarem o poder de agenciamento conferido às próprias substâncias e os sentidos que lhes são atribuídos nos processos de socialização.