GT 002. A contribuição da perspectiva antropológica sobre o uso de substâncias psicoativas para o debate atual em torno das
Apresentação Oral em GT
Geraldo de França Alves Junior
Reflexões etnográficas sobre a relação entidades / possessão e o uso ritual de bebidas alcoólicas em centros Umbandistas do Litoral Norte da Paraíba
Este work trata das relações existentes entre as entidades manifestas nos centros religiosos de Umbanda localizados no Litoral Norte da Paraíba, localizado na região Nordeste do Brasil, especificamente na cidade de Rio Tinto. O foco principal dessa pesquisa reside na descrição etnográfica do uso ritual do álcool em momentos importantes da agenda cerimonial desses grupos religiosos, bem como de suas normas, como em saídas de santo, dias de toque e festas: momentos rituais de importante expressão, nos quais os usos rituais de bebidas como cachaça, vermute, vinho, cerveja, espumante e outros, são realizados de diferentes formas, como, por exemplo, quando consumidas por entidades que constituem e participam da cosmologia que embasa a rotina ritual e os momentos litúrgicos significativos para a expressão religiosa desses grupos. Ao mesmo tempo, essa pesquisa pretende contribuir para o debate sobre o significativo papel das bebidas alcoólicas na constituição cultural brasileira, realizando uma leitura de autores clássicos como Câmara Cascudo (2006) e contemporâneos como João Azevedo Fernandes (2011). Indo além do debate médico-farmacológico – sem desmerecê-lo – o que propomos, a partir da experiência etnográfica, é que reflitamos sobre formas alternativas de perceber tais usos e costumes dentro da religiosidade afro-brasileira, sob o prisma dos estudos de enteógenos (MacRae, 1992). Pensando a partir de Erving Goffman (2008), por exemplo, percebemos o uso dessas substâncias não como complemento de uma parte alegórica dos rituais umbandistas, mas como partes do equipamento expressivo que essas manifestações vêm construindo ao longo do tempo, e por isso, passíveis de uma compreensão histórica, sociológica e antropológica. O uso ritual do álcool é, portanto, parte da persona construída por essas entidades, da sua força e dos papéis que desempenham, ou seja, uma forma de ligação entre o plano terreno e o espiritual. Desta maneira, esta é uma interpretação que se distancia de uma visão muito difundida no senso comum, segundo a qual a ação de se fazer uso de bebidas alcoólicas constitui um sinal de desconfiança das intenções e expressões religiosas desses umbandistas. Sendo assim, a partir da análise etnográfica das diferentes entidades e possessões envolvidas nos rituais realizados por esses religiosos, pretendemos discutir sobre como a relação entre estes e o uso ritual do álcool formam, ainda, os símbolos representativos e a fachada ritual da Umbanda no Litoral Norte da Paraíba.