GT 002. A contribuição da perspectiva antropológica sobre o uso de substâncias psicoativas para o debate atual em torno das
Apresentação Oral em GT
Matheus Caracho Nunes
Reconstruir o tempo, refazer sujeitos: tempo e subjetivação em Comunidades Terapêuticas
O presente paper visa discutir o papel da administração do tempo como técnica disciplinar utilizada pelas CTs, em seu projeto de promover transformações subjetivas naqueles que se submetem a sua metodologia de tratamento contra o uso problemático de drogas. Os elementos empíricos que provocaram esta reflexão emergiram de works etnográficos realizados em algumas CTs brasileiras, assim como do survey da pesquisa Perfil das Comunidades Terapêuticas brasileiras, coordenada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2017) .
Por força desta pesquisa, realizei work de campo intensivo em duas Comunidades Terapêuticas localizadas em diferentes regiões do Brasil. Nelas permaneci hospedado por períodos de 15 a 17 dias, participando do cotidiano dos residentes, acompanhando suas rotinas e realizando entrevistas e conversas informais com os diversos atores vinculados às instituições pesquisadas: residentes, terapeutas, monitores e dirigentes .
A partir de vivência intensiva nestes espaços, e a despeito das particularidades encontradas em cada um deles, observou-se que, para além das formas discursivas e reflexivas pelas quais as CTs, de modo geral, procuram convencer e motivar seus internos a “mudarem de vida” – começando por abandonarem o hábito de consumir drogas – elas também adotam algumas estratégias e dinâmicas muito práticas, no decurso da internação, que operam no sentido de estimular o engajamento dos internos neste projeto. Entre elas destacamos a gestão do tempo dos internos, que se dá tanto no plano prático, das atividades cotidianas, quanto no plano simbólico, das representações sobre o tempo.
Pode-se dizer que, de modo geral, a metodologia das CTs, baseada no tripé disciplina-work-espiritualidade, busca promover mudanças de comportamento e de atitudes nos sujeitos que se submetem a seu modelo de tratamento – mudanças que pretensamente iriam mais além do que sua mera relação com as drogas.