GT 002. A contribuição da perspectiva antropológica sobre o uso de substâncias psicoativas para o debate atual em torno das
Apresentação Oral em GT
Andrew Müller Reed
Entre a prescrição e a proscrição: deslizamento de sentidos e práticas de uso da maconha no contexto do uso “terapêutico”
O objetivo desta comunicação é apresentar questões de pesquisa etnográfica em andamento com mães e pais de crianças com doenças raras que fazem uso terapêutico de maconha. Partindo da ideia de que é problemática a tradicional divisão que separa as substâncias consumidas nas sociedades contemporâneas em medicamentos prescritos, de um lado, e drogas proscritas, do outro, a proposta é refletir sobre ambiguidades e deslizamentos de sentidos dos usos desta planta-substância-droga-medicamento. Evocando a noção de pharmakon (Góngora, 2017), em que é possível perceber a maconha não como um valor absoluto em si, mas tendo seu caráter – terapêutico ou recreativo, legal ou ilegal, moral ou imoral – construído e definido de forma relacional e complexa, tomo familiares de pacientes e ativistas canábicos e antiproibicionistas como interlocutores de modo a refletir sobre novas formas de conceber e possibilitar o uso da maconha, assim como novas formas de demandar ao Estado a permissão legal para seu acesso. Esses discursos e práticas de uso ocorrem de forma independente, mas não isolada dos discursos e práticas legais de aparatos estatais estabelecidos para regular o consumo dessas substâncias. Em um primeiro momento, portanto, pretendo refletir sobre o significado da mudança de status formal de duas substâncias presentes na maconha. A reclassificação do CBD e THC nas listas da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária acontece sem que isso altere o status legal da maconha como droga proscrita. Em seguida, busco fazer uma reflexão sobre o status moral do uso de maconha a partir de relatos de mães e pais de usuários medicinais.