Redes sociais da ABA:
GT 002. A contribuição da perspectiva antropológica sobre o uso de substâncias psicoativas para o debate atual em torno das
Apresentação Oral em GT
Rogerio Lopes Azize
(Anti-) Incitacionismo? Uma reflexão sobre moralidades distintas entre “drogas” e “medicamentos”
Levando a sério a proposta deste GT, digamos que uma das boas contribuições de uma perspectiva antropológica para o debate atual em torno das “drogas” seja justamente as aspas com as quais esta palavra se apresenta. Ao colocar em perspectiva etnográfica e/ou histórica uma série de substâncias, verifica-se uma imensa fluidez em sua classificação, apenas a mais óbvia entre legal e ilegal. Com isso, aponta-se para o caráter pouco coerente de uma lógica proibicionista, como exemplifica o momento atual pelo qual passa a maconha, em vias de, em seu todo ou suas partes, tornar-se (ou voltar a ser) “medicamento”. Mas este termo também merece aspas e aqui a provocação deste paper: um anti-proibicionismo no que diz respeito a algumas substâncias ilegais não encontra equivalência moral no campo do debate sobre substâncias legais. Pelo contrário, a literatura é farta em um esforço crítico das formas de produção, divulgação e mesmo dos usos feitos de medicamentos, em um tom de denúncia. Moralidades distintas marcam, então, o cruzamento entre reflexões antropológicas sobre “drogas” e “medicamentos”. Somos anti-proibicionistas no que se refere aos circuitos marcados por legalidades? No que diz respeito aos laboratórios farmacêuticos, aos medicamentos e seus usuários, levamos em conta argumentos que têm sido importantes na reflexão e relativização das substâncias, como a autonomia dos usuários, controles informais ou contexto de uso (Rui e Labate, 2016)? Partindo da hipótese de um “dispositivo da droga” (Vargas, 2008), ou seja, de que paralelamente a um agressivo proibicionismo, algumas sociedades ocidentais contemporâneas tendem a uma igualmente marcante incitação ao uso de certas substâncias, o objetivo deste paper é uma reflexão sobre o rendimento de se pensar um incitacionismo ou mesmo um anti-incitacionismo, a depender de que lado a substância é classificada.