Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
"Ser na Rua, Ser da Rua: abandono social, violência e estigma com mulheres em vulnerabilidade no município de Rio Tinto"
Marçal Henrique da Costa (UFPB), Luziana Marques da Fonseca Silva (UFPB)
Este resumo visa refletir sobre a vivência de Maria, uma mulher em situação de rua no município de Rio Tinto, localizado no litoral norte paraibano, no qual desenvolvemos uma etnobiografia (Gonçalves; Marque; Cardoso, 2012), a fim de trazer à tona os desafios enfrentados por indivíduos em situação de extrema vulnerabilidade no que diz respeito ao acesso aos serviços públicos de saúde e assistência social. A metodologia aplicada nesta pesquisa antropológica é qualitativa e descritiva, os dados têm sido coletados a partir das informações obtidas por meio de conversas diretas com a protagonista, agentes de saúde, profissionais da assistência social e outros moradores locais. A partir do relato, é possível perceber como o acesso de Maria aos serviços de saúde é complexo e burocrático, demandando a apresentação de documentos, como carteira de identidade e comprovante de residência. Desprovida de documentação e vivendo à margem do horário comercial convencional, agravado pela dependência ao crack e a constantes mudanças de localização, Maria enfrenta uma camada adicional de violência ao ser negligenciada pelo aparato estatal. agravos à exposição ao HIV/Aids. Maria é tida como um potencial foco de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, sendo insinuado, por parte de algumas moradoras, que vários homens haviam sido vítimas dessa suposta contaminação. Esse posicionamento acusatório nos dá a entender como a situação de Maria é percebida pela comunidade, é um indicativo que nos permite dimensionar como o seu corpo é lido pelo/no território. Por um lado, Maria, sem uma moradia fixa e rotineiramente associada ao uso de drogas, impulsiona uma leitura de que sua própria existência é impura, tal qual nos lembra Mary Douglas (1985). A necessidade de uma ação urgente exigiu uma pronta intervenção para auxiliá-la a obter tratamento, através da parceria com ONG's paraibanas com expertise na atenção às pessoas em situação de rua, motivando-nos a considerar iniciativas como o projeto "Médicos na Rua" da Prefeitura de João Pessoa. Essas ações visam implementar políticas de redução de danos, inspiradas em experiências bem-sucedidas em alguns estados do Brasil. Em última análise, almejamos contribuir para a construção de uma resposta ao HIV/Aids mais eficiente e sensível às necessidades desses indivíduos em situação de extrema vulnerabilidade social.