Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
"Tudo é temporário": modos de habitar, permanecer e circular nas ruas de Volta Redonda/RJ
Nildamara Theodoro Torres (Iniciativa PIPA)
Viver na rua representa ocupar espaços públicos que também refletem um tipo de sociabilidade, como
compartilhar um beco, uma praça, um viaduto, partilhar roupas, alimentos, bebidas. A rua é atravessada por
mobilidades, atividades e sujeitos, todos em movimento e participando de complexas redes de relações. O
objetivo deste trabalho é discutir as dinâmicas de circulação e permanência dos sujeitos em situação de rua
nas periferias da cidade, assumindo as Comunidades Terapêuticas como alternativa de moradias temporárias. A
presença das CTs reflete um tipo de sociabilidade muito específica que, de determinadas formas, tem a ver
com o sentido de casa, família e acolhimento, mas que são, ao mesmo tempo, atravessadas por uma
temporalidade específicas de espaços como estes, temporários e com um conjunto de regras. Trago como ponto
central a CT localizada em um bairro periférico de Volta Redonda para pensarmos sobre as dinâmicas de
circulação e as múltiplas possibilidades de habitação, circulação e permanência em contextos de
precariedade. O presente trabalho é fruto de uma pesquisa qualitativa que venho desenvolvendo a partir da
cidade de Volta Redonda em diferentes fases. Num primeiro momento, acompanho e traço diálogos com
assistentes sociais do Centro Pop, com o objetivo de entender a complexidade do fenômeno da situação de rua
naquele território. Em um segundo momento, acompanho, tanto presencial quanto virtualmente, a rede de
doações de comida que circulam pela cidade distribuindo alimentos, água e roupas para, então, chegar a
sujeitos específicos que vivenciam as ruas, e que, de determinada forma, se tornaram meus interlocutores por
um breve período. Este é um trabalho composto a partir de diálogos com os principais interlocutores
integrantes de uma CT na cidade: Dona Ana e Márcio. Volta Redonda atrai um número considerável de grupos de
pessoas em situação de vulnerabilidade e/ou em situação de rua, com objetivos de, principalmente, ganhar a
vida. Ao mesmo tempo, a situação de rua é alvo de políticas e ações de instituições públicas, religiosas e
de grupos de voluntários, que visam amenizar a situação de vulnerabilidade de tais sujeitos. Vale ressaltar
que a cidade propõe a integração entre medidas assistenciais e os dispositivos de interceptação, controle e
limpeza dos espaços públicos e, também por isso, há uma extensa rede voltada para o cuidado com estes
sujeitos. Neste imbricamento, encontro a atuação das CTs, que se apresentam como instituições temporárias de
acolhimento e apresento reflexões sobre o cotidiano fragmentado de sujeitos que vivenciam o espaço das ruas
entre a circulação e o confinamento, reconfiguram as noções de casa e evidenciam o descompasso e a
fragilidade das instituições e produzem vida a partir da ausência.