Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 013: Antropologia das práticas esportivas e de lazer
As torcidas organizadas e o fazer etnográfico multissensorial: notas sobre uma atualização metodológica
Roberto de Alencar Pereira de Souza Junior (UFSCAR)
Com este trabalho busco refletir sobre a necessidade de atualizações metodológicas às etnografias com torcidas organizadas no Brasil, sobretudo ao se observar suas mais diversas formas de sociabilidade urbana na contemporaneidade. Tomo como recorte a cidade de São Paulo, onde algumas torcidas também atuam como Escolas de Samba no carnaval oficial da metrópole. Na pesquisa de doutorado (FAPESP, processo: 2022/14384-4) proponho a análise comparativa de três torcidas/escolas: Os Gaviões da Fiel e a Camisa 12, associadas ao Sport Club Corinthians Paulista; e a Mancha Verde, atrelada a Sociedade Esportiva Palmeiras. Com o objetivo de vivenciar as Torcidas Organizadas para além da classificação já datada de pertencimento clubístico, a qual propõe a existência desses coletivos em prol do torcer para seus clubes e rivalizar com torcedores de times rivais, tenho explorado a experiência dos torcedores para além do futebol, como no samba de espetáculo da cidade. E busco com isso demonstrar a complexidade contemporânea desses coletivos que ao se expandirem negociam e disputam suas práticas de sociabilidade entre ser Torcida Organizada e Escola de Samba. Ao se tratar de um ambiente amplamente subjetivo, estético e performático, tenho me amparado em uma etnografia multissensorial, a qual visa perceber os múltiplos sentidos em campo para além da descrição meramente objetiva, e com isso tenho vivenciado uma relação constante do fazer etnográfico experimental entre as antropologias das práticas esportivas e audiovisual. Através desse exercício antropoético, isto é, de um fazer antropológico que se propõe inventivo por se ater mais ao sensível do que a razão descritiva impressa nas palavras, tenho aproveitado de minha aptidão enquanto antropólogo, fotógrafo e profissional do audiovisual nas periferias da cidade. A partir disso tenho refletido sobre a necessidade de algumas atualizações metodológicas, desde a presença em campo de pesquisa até a comunicação científica de nossas vivências etnográficas. Afinal, como narrar práticas de lazer e estilo de vida tão estéticas e sensoriais como a de nossos interlocutores senão extrapolando para além da descrição textual? Como compreender a sensorialidade do torcer e do sambar sem uma participação mais experimentada no próprio corpo que etnografa? E como combater os estereótipos reproduzidos pela mídia sem o uso de imagens e sonoridades que proponham uma outra perspectiva de narrativa sobre os torcedores organizados? Com base nestas questões e no que tenho experimentado metodologicamente ao acessar outras vivências dos torcedores para além do futebol, discuto aqui sobre maneiras inventivas de lidar com a observação e a produção antropológica desse conhecimento tão sensível, sonoro e visual.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA