ISBN: 978-65-87289-23-6 | Redes sociais da ABA:
GT10: Antropologia das Mobilidades
Apresentação Oral
Martina Ahlert, Nicole Pinheiro Bezerra
Casa e mobilidade em São Luís do Maranhão: uma abordagem antropológica
Desde 2016 acompanhamos alguns moradores do Centro Histórico de São Luís, capital do Maranhão, em seus engajamentos relacionados à luta por moradia. Enfatizamos, especialmente, três bairros - a Praia Grande, o Desterro e o Portinho, locais de atuação da União de Moradores da região. Esse perímetro corresponde, em grande parte, à área de tombamento federal, reconhecida, em 1997, pela UNESCO, como Patrimônio Cultural Mundial. Na pesquisa conhecemos concepções e práticas relacionadas à casa; experiências em torno da moradia em uma área regrada por normativas diversas dado seu caráter de patrimônio; e formas de socialidade e ajuda mútua. Além disso, percebemos como a casa e a mobilidade, antes do que representativas de polos opostos (estabilidade e movimento) são articuladas no cotidiano das pessoas que vivem no Centro Histórico. Casa e mobilidade aparecem nas "observações" realizadas pelos moradores para saber qual casarão ocupar, haja vista a presença de famílias em edifícios históricos de proprietários desconhecidos ou ausentes. Surgem nas práticas de trabalho com a venda de comidas e bebidas, feitas nas ruas e praças. Se colocam nas constantes trocas de local de residência, movimento que se relaciona com o trabalho, o parentesco e a melhoria das condições de habitação. E podem ser pensadas em contraposição às normativas que regem o patrimônio, uma vez que os casarões se alteram com o tempo, tornando-se ruínas ou ainda sendo transformados pela circulação de objetos que, reinventados em novos espaços, passam a compor velhas/novas casas. No trabalho aqui proposto nos interessa mostrar que obliterar a associação entre casa e mobilidade reforça argumentos expressos por políticos locais sobre o "vazio" do Centro e a necessidade de "repovoá-lo". Sugerimos que, nessa forma de conceber o espaço há uma dificuldade em perceber o movimento das pessoas como constituinte da sua relação com os bairros. A despeito do reconhecimento da casa como escopo da luta política dos moradores, parece operar, por parte do Estado, uma lógica de controle da mobilidade e da experiência da moradia. Nas palavras de uma das nossas interlocutoras, "se dá casa, mas não liberdade". Desta maneira, exploramos a ambiguidade presente na disposição protocolar de promover a habitação social e, ao mesmo tempo, não perceber parte dos atuais ocupantes do Centro (e suas práticas) como moradores legítimos do local. Para finalizar, buscamos analisar a forma como os nossos interlocutores respondem ao Estado. Apesar de haver diversos serviços governamentais nos bairros estudados e de existir uma constante interação de alguns dos nossos interlocutores com os funcionários estatais, o que eles narram, reiteradamente, é a sua ausência.