ISBN: 978-65-87289-23-6 | Redes sociais da ABA:
GT13: Antropologia Digital: processos, dinâmicas, usos, contra-usos e contenciosos em redes socioténicas
Apresentação Oral
Bruno Benichio
'As sugar babies são empresas e os sugar daddies são investidores anjos': uma análise etnográfica sobre os relacionamentos sugar e as suas vinculações com elementos de uma racionalidade mercadológica
Os relacionamentos sugar heterossexuais são compostos pelas sugar babies e pelos sugar daddies. As babies são mulheres jovens de diversas classes sociais e os daddies são homens de meia-idade e de classe média alta ou de elite. Para além da necessidade de existir uma troca de afetos e zelo mútuo entre os parceiros, o dinheiro é um fator indispensável para a constituição dessas relações. Deste modo, o daddy deve auxiliar a baby em suas ambições de consumo e em seus projetos profissionais, ajudando-a, por exemplo, a abrir uma empresa ou pagar mensalidades de faculdades privadas. As redes sociais digitais especializadas para a busca de relacionamentos sugar vendem a ideia de que possuir um sugar daddy é uma possibilidade eloquente de autorrealização pessoal não só pela suposta experimentação de um amor romântico, aspiração que ainda prevalece na contemporaneidade mesmo com o advento de uma racionalidade utilitária (ILLOUZ, 2014), mas também como uma oportunidade de engrandecimento profissional, ao passo que o sugar daddy auxiliaria uma sugar baby em seus horizontes de profissionalização. De qualquer modo, ainda que as redes sugar se comercializem como alternativas para driblar as desigualdades de classe e gênero reproduzidas no cerne do sistema capitalista, elas se inserem em um segmento de exploração comercial de formas de relacionamentos afetivo-sexuais na linha dos aplicativos de busca de parceiros. Para se distanciar de uma perspectiva que decodificaria as sugar babies apenas como inativas nesses contextos, esta pesquisa objetiva analisar os processos de subjetivação, as agências e modos de presença e inscrição online dessas mulheres para compreender as formas pelas quais elas negociam e experienciam os ideários vendidos pelas redes sociais sugar. Esse objetivo almeja ser alcançado pelo intermédio de entrevistas com as sugar babies e mediante uma etnografia em contextos digitais (HINE, 2015), que acompanha e coleta publicações de um grupo sobre relacionamentos sugar no Facebook e postagens de perfis de sugar babies influencers no Instagram. Deste modo, esta apresentação objetiva dissertar sobre os modos pelos quais as sugar babies estrategicamente utilizam e/ou invertem ao seu favor os elementos de uma racionalidade mercadológica que reproduz na esfera íntima os valores que estruturam o mercado financeiro e o mundo do trabalho precarizado, explicitando os sentidos que essas mulheres empregam sobre as fantasias comercializadas pelas redes sociais customizadas para o encontro de um sugar daddy. Referências bibliográficas ILLOUZ, E. Hard romance: Cinquante nuances de Grey et nous. Paris: Seuil, 2014. HINE, C. Ethnography for the internet: Embedded, Embodied and Everyday. London: Bloomsbury Academic Publishing, 2015.