GT13: Antropologia Digital: processos, dinâmicas, usos, contra-usos e contenciosos em redes socioténicas
Apresentação Oral
Gabriel Baena
Repertório de ação digital da Malungu durante a pandemia de Covid-19
O presente artigo traz reflexões sobre o uso das tecnologias da informação e das mídias digitais da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu) para o enfrentamento da pandemia de covid-19, nas comunidades remanescentes de quilombo do Pará. Desde a chegada da doença nessas comunidades, registrada em abril de 2020, o uso desses dispositivos tecnológicos intensificou-se entre os quilombolas, com o objetivo de promover o enfrentamento da doença e o ativismo político da Malungu. Atuando em nível estadual, essa entidade representa, atualmente, mais de 500 comunidades cuja trajetória remonta ao período colonial e às rebeliões e fugas de negros escravizados na região amazônica (SALLES, 2013). Neste trabalho, os estudos de ciência e tecnologia desenvolvidos por Latour (1994) têm fornecido importante contribuição para os estudos de mídia e/ou antropologia digital. Latour nos oferece o conceito de redes sociotécnicas, segundo o qual, as redes são formadas por associações de humanos e não-humanos, permeadas e imbricadas por várias questões híbridas, tais como a economia, política, ciência, cultura, religião, entre outras. A partir dos pressupostos da Teoria Ator-Rede (TAR), destaca-se que o social está sempre em formação como uma rede de associações de atores sempre em movimento. Sobre a noção de repertório digital, as autoras Jennifer Earl e Katrina Kimport (2011) pontuam duas características para sua emergência: o custo reduzido para criar; organizar e participar de protestos e a capacidade de agregar ações individuais dos indivíduos em ações coletivas mais amplas sem exigir que os participantes estejam no mesmo espaço. Dessa forma, este artigo se concentra em: 1) descrição da ação coletiva da Malungu; 2) os conteúdos informacionais que foram e são disseminados por meio das mídias sociais aos quilombolas; 3) as diferentes campanhas durante o período de pandemia. Defendo que o isolamento e distanciamento social, vivenciado pela pandemia de covid-19, forçou a reorganização e articulação da Malungu, como também alterou sua atuação, criando novas formas de ativismo.