ISBN: 978-65-87289-23-6 | Redes sociais da ABA:
MR35: Materialidades etnográficas: fabular com as coisas
Apresentação Oral
Mylene Mizrahi
A voz, a fala e outras partes da pessoa: a matéria do artista funk
Tendo como mote episódios de criminalização do funk carioca dos quais participei argumentando a favor do ritmo em audiências públicas, eventos acadêmicos, entrevistas aos meios de comunicação, elaborarei sobre a apropriação de minha fala e voz - emitidas em entrevista ao Fantástico, programa da Rede Globo - por um grupo de artistas na composição da base da música "Funk não é crime". Argumentarei que as especificidades da lógica apropriativa funk, que evidenciarei junto à categoria nativa "rouba-rouba", encontra-se a serviço do que designo como sendo o hiper-realismo funk. Esse traço hiper-realista se faz concomitantemente a uma busca de visibilidade que, excessiva para alguns, pode permitir entender por que o funk "incomoda" tanto e é criminalizado. Ao mesmo tempo, esse tornar-se visível, que se faz acompanhar de uma estética do choque, se alimenta e é produto de partes destacadas de pessoas. Nesse caso, partes apropriadas de mim mesma e outras destacadas do artista que, como pessoa fractal, se distribui e age pelo mundo, levando longe sua mensagem. Esse distribuir-se se faz igualmente manifesto por meio da imagem, espalhando-se pelas redes e pelo meio digital. Imagem que novamente traz à cena a "realidade" do artista funk, o que me leva, por fim, a pensar sobre como relacionar a performance funk e o Afrofutursimo. Se neste último a ancestralidade é acionada para produzir narrativas de um futuro transgressor e utópico, que se realiza na ficção, o artista funk ficciona sobre o real para explicitar o presente como se desenrola à sua frente. Ao elaborar sobre o hiper-realismo funk elaboro sobre os modos apropriativos do artista pop, que são também modos políticos de agir sobre a materialidade no mundo.
Palavras-chave: estética, pessoa, apropriação