MR35: Materialidades etnográficas: fabular com as coisas
Apresentação Oral
Vânia Z Cardoso
Entre gestos e palavras: (des)fazendo coisas e estórias
McLean sugere que um dos potenciais mais radicais da antropologia é o de minar as convenções que distinguem o ficcional do documental, ressaltando que isso não implica em um abdicar do real ou um ausentar-se desse em auto-absorção, sendo antes um mergulhar na viscosidade, confusão e proliferação do que é (2017). Para McLean, a ênfase em tal "arte fabulatória" (ibid) passa por um desvio de afinidades da antropologia em direção às artes e à literatura, mas, levando a sério o que Tsing e Ebron (2015) descrevem como os "ritmos característicos do trabalho de campo" - a escuta atenta aos ritmos de outras vidas, pontuada pela surpresa da antropóloga em campo - sugiro que a arte da fabulação reflete menos uma escolha entre arte e ciência do que uma atenção aos afetos e à composição de sensibilidades implicados no campo etnográfico. Retomando recentes e antigos encontros com clientes, filhos de santo e entidades da rua em várias sessões de consulta, onde antropóloga-cambona, entidades e clientes se (des)encontram em um intenso ritmo de movimento, sonoridades e olhares, me volto para o jogo de gestos, palavras, coisas, afetos, estórias, búzios e silêncios que se desdobram no fazer da consulta enquanto encontro que não se limita espacial ou temporalmente à sessão. Busco assim mergulhar nesses atos fabulatórios e em sua tensa composição daquilo que é e do que pode (não) vir a ser.
Palavras-chave: estórias; gestos; afetos