GT13: Antropologia Digital: processos, dinâmicas, usos, contra-usos e contenciosos em redes socioténicas
Apresentação Oral
Olívia Alves Barbosa
Paisagens-afetivas: a centralidade do visual nas disputas entre feministas e antifeministas em ambientes digitais
Proponho pensar como a tecnologia das novas mídias sociais se relaciona com o uso cada vez mais acentuado da linguagem visual na ações de ativistas feministas e antifeministas. Para isto realizei uma etnografia digital das interações entre estas ativistas, o que me deu a possibilidade de observar a circulação de imagens e vislumbrar a relevância do visual em disputas sobre questões de gênero. Observei que ativistas feministas e antifeministas têm conta em múltiplas mídias e plataformas digitais, mas movimentam mais ativamente e têm um número maior de seguidores no Instagram. Suponho que a valorização do Instagram se deva à centralidade que a imagem obtém nesta mídia em que se compartilham fotografias, imagens e vídeos. Considerando que as relações sociais no ambiente digital não se dão no vácuo dei centralidade à materialidade da infraestrutura digital (designs, algoritmos, funcionalidades), do conteúdo digital (vídeos, textos e imagens) e do contexto digital. Henri Lefebvre, em A produção do espaço, mostrou que o espaço não é um fator puramente material, mas um produto social que nunca se constitui como uma obra completa: é continuamente produzido pela sociedade e está sempre ligado ao tempo na forma de processos práticos, discursivos e simbólicos. Esta noção de espaço de Lefebvre possibilita entender o espaço social digital como um produto da sociedade da informação e ao mesmo tempo condição de produção dela. Esse espaço digital abarca processos discursivos e simbólicos específicos, isto é, aspectos pensados e sentidos da experiência social, bem como apresenta uma materialidade própria. No caso em questão, a ação produtiva das ativistas feministas e antifeministas na internet confere materialidade a um espaço social digital que é ao mesmo tempo o meio em que essas disputas se produzem e produto delas. Embora usuários pertencentes a diferentes redes tenham em comum a organização e design das mídias, as paisagens afetivas e sensoriais a que têm acesso são diferenciadas em função de como algoritmos codificam suas ações e, com base nessa codificação, produzem associações. Por isso, quando agem digitalmente, feministas e antifeministas se voltam para a captura da atenção dos usuários. Isso implica que, para ganharem maior visibilidade e não serem soterradas numa avalanche de informações, as mensagens devem despertar o interesse em frações de segundos. Uma forma de obter esse efeito é agenciar imagens emotivas que provocam o engajamento daqueles que concordam e discordam delas. Se a linguagem do Instagram é majoritariamente visual podemos estar diante de um novo modo de fazer política. Meu interesse, nesse sentido, não é observar a política das imagens nas mídias sociais, mas entender como a partir delas se passou a fazer política por meio de imagens.