GT10: Antropologia das Mobilidades
Apresentação Oral
Ester Corrêa
Mulheres habitando a estrada: etnografando formas de permanecer e se deslocar nas rotas da América do Sul
Este trabalho segue a trilha do tema dos deslocamentos e mobilidades das mulheres viajantes de mochila. Habitar a estrada é (re)inventar mundos. Os deslocamentos por entre as fronteiras e estradas latino-americanas, tem sido parte de uma invenção cultural com distintos sentidos, formas e movimentos. Nesses movimentos, cruzamentos de rotas e de fronteiras, as mulheres ocupam distintas posições em termos de nacionalidade, idade, classe, raça, dentre outros marcadores, o que pluraliza a experiência da viagem. Nesse sentido, este artigo pretende dar conta, por uma perspectiva feminista, de permear as singularidades e pluralidades dos deslocamentos e tem como objetivo atravessar as experiências de movimentos e de permanências de mulheres viajantes sul-americanas, destacando as estratégias e agências que impulsionam as viagens de mochila, registrando as práticas e os significados das experiências de trânsito e pouso. O artigo é parte de uma pesquisa etnográfica que está se construindo metodologicamente, no âmbito do curso de doutorado, por meio de incursões a campo nas estradas de diferentes países sul americanos no ano de 2019, e no Brasil, no ano de 2022 - assim como incursões virtuais no Instagram. Caracteriza-se como uma etnografia viajante que adotou o deslocamento como método principal de observação e de promoção de encontros no sentido de obter narrativas de experiências sobre e durante os trajetos. Dentre os vários aspectos que revelam sobre as formas de deslocamentos e permanências das mulheres viajantes, é possível destacar que a experiência espacial, o ato de chegar e sair de um lugar é feito por meio de uma conexão, como disse Doreen Massey, de uma associação às histórias das quais o lugar é feito. Os achados da pesquisa dão conta de que, as práticas e as formas de mobilidades que envolvem a experiência de se movimentar entre histórias-lugares das interlocutoras da pesquisa, são trajetos combinados de ônibus, caronas em caminhões e carros, caminhadas, voos. As rodoviárias, postos de combustíveis, entroncamentos, tornam-se lugares de negociações dos embarques, que levam os fluxos entre países/cidades/ruralidades onde as permanências são propiciadas pelos pousos em distintos espaços. Na dimensão do encontro, é nos campings, mocós, alojamientos, hostel, hospedagem solidária acontece um fluxo e uma fricção entre ideias, imagens e pessoas de diferentes lugares do mundo. Todo esse movimento complexo entre meios de transporte e meios pousar produz significado espaço-temporal que faz das experiências das viajantes um importante dispositivo para refletir sobre os sentidos das viagens das mulheres. Palavras-chaves: Mulheres viajantes; mochila; deslocamentos; América Latina.