ISBN: 978-65-87289-23-6 | Redes sociais da ABA:
GT10: Antropologia das Mobilidades
Apresentação Oral
Anna Clara Pereira Soares, Aymê Brito Mendes de Oliveira, Gabriella Cordeiro Costa Ferreira, Diana Maria Barros Pestana
Mulheres entre regras e redes: o entra e sai do jumbo nas unidades prisionais de Guarulhos
Como se dá o "entra e sai" e as relações estabelecidas ao redor do "jumbo" nas penitenciárias masculinas de Guarulhos? Com essa pergunta em mente buscamos compreender as circulações do jumbo, caixa de papelão ou bolsa transparente com itens alimentícios, de higiene pessoal, roupas, medicamentos, cigarros, produtos de limpeza e papelaria, que são regulados e estabelecidos previamente, por meio de listas disponibilizadas no site da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), repassadas em grupos de WhatsApp ou em dias de visita e enviados por mulheres familiares de pessoas presas, previamente cadastradas nas unidades prisionais. O objeto é fundamental para a existência da prisão e para a manutenção de suas lógicas socioeconômicas internas de funcionamento. Nosso foco é demonstrar as teias de relações, de reestruturações e conflitos que têm que ocorrer do "lado de fora" para que o jumbo fique pronto. Realizamos durante a pesquisa cinco entrevistas semiestruturadas, nossas interlocutoras são familiares de algum homem em situação de cárcere que enviam ou enviaram jumbos para unidades prisionais de Guarulhos entre 2019 e 2021. Entramos em contato com as nossas interlocutoras por meio do Grupo de Whatsapp dos CDPs de Guarulhos, em que uma integrante da pesquisa fazia parte. As entrevistas ocorreram todas de forma online, por meio do google meet, por ligação ou audios de Whatsapp. Além disso, acompanhamos os fluxos de informações e conversas nos grupos de WhatsApp e de Facebook, a produção de vídeos no tiktok e YouTube e manifestações artísticas culturais, como músicas e documentários sobre o objeto. Ao longo do trabalho buscamos demonstrar as relações e tensões envolvidas no processo de montagem e envio do jumbo. Identificamos que a presença da prisão modifica a rotina e tem impactos sobre a renda, a relação da mulher com a família, com a pessoa privada de liberdade e com as outras mulheres familiares de pessoas privadas de liberdade. A partir das análises das entrevistas concluímos que: i) o poder que a prisão exerce está vinculado ao controle da mobilidade e imobilidade das coisas, informações e corpos (tanto das mulheres, quanto da pessoa privada de liberdade); ii) as mulheres criam outros canais para que o fluxo de informações e coisas corram mais livremente entre elas, sem o controle da prisão; iii) montar e enviar o jumbo é um trabalho reprodutivo feito pelas mulheres que mostra como a presença da prisão atravessa os muros institucionais e entra dentro da casa dessas mulheres; iv) ter ou não ter o jumbo modifica profundamente a experiência de quem está em situação de cárcere; v) a montagem do jumbo é por vezes justificada pelo "não-abandono" do familiar, objetivando demonstrar o afeto e o cuidado com o parente que está preso.