MR35: Materialidades etnográficas: fabular com as coisas
Apresentação Oral
Luciana Hartmann
Fabulações sobre o movimento: entre esqueletos, próteses e bengalas
Nesta comunicação dou sequência a experimentos que venho realizando há alguns anos, em diferentes formatos (ensaios autoetnográficos, vídeos, performances, narração de histórias), nos quais procuro estabelecer uma conversa com o esqueleto imperfeito de uma mulher, que impede ou prejudica sua mobilidade. Dessa conversa emergem reflexões sobre o conceito de movimento e seus múltiplos significados, e sobre como estes reverberam tanto em minha trajetória de pesquisa etnográfica com contadores de histórias e crianças imigrantes, quanto em minha trajetória pessoal, marcada por cirurgias ortopédicas. Nas fabulações sobre o movimento, desta forma, cabem combinações entre contos tradicionais, histórias de vida, registros etnográficos, teorias antropológicas e reflexões da filosofia clássica, que pensam o movimento como mudança na realidade - Aristóteles, por exemplo, define o movimento como passagem da potência a ato. Mobilidade, movimento, atravessar fronteiras... Etimologicamente, a palavra movimento origina-se do Latim movere, que significa "colocar em marcha, mover, fazer deslocar-se". Movere também está na raiz da palavra emoção, uma junção de ex + movére: "mover para fora". Ou seja, mesmo na imobilidade, podemos nos mover, podemos nos emocionar. André Lepecki, em texto escrito durante o período pandêmico, defende que há "Movimento na Pausa" (Lepecki, 2020). Há muitas possibilidades de movimento. Fotos e vídeos etnográficos selecionam/registram/exibem movimentos. Textos ensaísticos, disse Benjamin, apresentam o movimento das ideias. Próteses e bengalas auxiliam o movimento do corpo. Fabulações criam imagens, textos, corpos, imaginam movimentos.
Palavras-chave: Movimento; performance; fabulação.