ISBN: 978-65-87289-23-6 | Redes sociais da ABA:
GT10: Antropologia das Mobilidades
Apresentação Oral
Evaldo Mendes da Silva
O mal que vem de longe: cidade, mobilidade e alteridade Wassu-Cocal
O objetivo deste trabalho é debater a relação entre territórios indígenas e espaços urbanos. O foco principal são as relações de grupos familiares Wassu-Cocal com a cidade e o modo como interpretam suas experiências de morar em áreas urbanas. A Terra Indígena Wassu-Cocal se localiza na Zona da Mata do estado de Alagoas, possui 2.758 e conta com aproximadamente 2.234 habitantes (IBGE, 2010). A história dos índios Wassu-Cocal, bem como de boa parte dos grupos indígenas no nordeste brasileiro, tem sido marcada por diversos processos de "mistura" e de "territorialização" vivenciados nos contextos colonial e pós-colonial brasileiro (Oliveira, 1998). Até meados do século XIX, os Wassu-Cocal ocupavam uma área de aproximadamente 57 mil hectares (Beltrão, 1980; Antunes (1984). No entanto, ao longo deste período aquelas terras foram sistematicamente invadidas e usurpadas por usineiros de tal forma que, em meados década de 1980, restavam apenas pequenas áreas de ocupação cercadas por extensos canaviais. Em 1985, um estudo proposto pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) avaliou que cerca de 70% da população Wassu-Cocal havia migrado para áreas urbanas e que somente 400 moradores permaneciam vivendo em pequenos lotes de terras (Mendes, 1985). Em 1991, após a demarcação e a pacificação dos conflitos, diversas famílias que viviam em áreas urbanas iniciaram um movimento de retorno à Terra Indígena. São famílias que viveram por anos ou décadas em pequenas cidades vizinhas, na capital, Maceió (que fica a aproximadamente 80 km de distância) e em grandes capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. De modo geral, os "parentes de fora", como são chamados aqueles que vêm da cidade, são bem acolhidos por seus grupos familiares locais passando a viver em um dos quinze núcleos populacionais que compõem o aldeamento. A partir destas experiências vividas na cidade, pretende-se aqui oferecer perspectivas etnográficas que se distanciem da visão integralista que pressupõem que a vida na cidade "apaga" ou "dissolve" os marcadores de diferença e de alteridade indígenas. O trânsito entre a cidade e a aldeia é parte da vida cotidiana dos Wassu-Cocal e o objetivo deste trabalho é trazer à reflexão estas experiências que, aos nossos olhos, podem parecer modos de socialização incompatíveis. Dentro desta perspectiva, a "cidade" como um espaço físico e social será um elemento chave para compreendermos como os Wassu se relacionam e dão sentido a estes fluxos e movimentos.