GT13: Antropologia Digital: processos, dinâmicas, usos, contra-usos e contenciosos em redes socioténicas
Apresentação Oral
Danillo Roberto Teodozio Costa Pinto
Redes LGBTQIAP+ e agenciamentos com plataformas digitais sonoras
Os sons, como ecossistemas que habitam a vida humana e não-humana, aglomeram práticas culturais carregadas de mensagens e intenções capazes de agir na comunicação, nas emoções, nos comportamentos e nos processos de subjetivação. No cenário contemporâneo, pessoas LGBTQIAP+ de distintas partes do ecossistema global unem-se a tecnologias sonoras e alargam o compartilhamento de vivências e informações num mundo interconectado pela internet. Este trabalho objetiva, por meio de perambulações na plataforma digital do Spotify, seguir agenciamentos de pessoas LGBTQIAP+ do Brasil que compartilham conteúdos na podosfera. Realizei um mapeamento de podcasts a partir do descritor LGBT, que deu vazão a 991 podcasts e dos quais 190 produzidos por pessoas do Brasil foram catalogados. Na intenção de disponibilizar o banco de dados para acesso público na plataforma, criei um perfil de pesquisador e cataloguei os podcasts em seis playlists identificadas a partir dos anos de lançamento: 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021. Esta decisão reverberou em dilemas metodológicos que cruzaram a pesquisa ao considerar elementos como algoritmos, historicidade do descritor e as características próprias da plataforma, evidenciando diferentes percursos e o sumiço de alguns podcasts catalogados. Nos fluxos dessas redes em que experiências se coadunam e se co-produzem, atenta-se para a heterogeneidade de intenções agenciadas, seja em projetos profissionais, atividades de coletivos, divulgações de pesquisas, ou mesmo no compartilhamento de contos eróticos. No emaranhado de narrativas que reescrevem memórias, assimetrias nas relações de pessoas com as mídias convencionais das décadas de 80 e 90 no Brasil remetem a processos de silenciamentos, violências e imagens estereotipadas da população LGBTQIAP+, bem como a discursos regulatórios da binaridade de gênero, de patologização da homossexualidade, de chacota, erro, naturalização de corpos e vergonha da família. Em contraposição a esses trânsitos que marcaram infâncias e adolescências de pessoas LGBTQIAP+ no Brasil, se observa desde 2016 no Spotify a emergência de outras narrativas. Nesse sentido, o trabalho demonstra a co-produção de uma rede LGBTQIAP+ que alarga o compartilhamento de vivências narradas e protagonizadas por esses sujeitos.