Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 001: A GESTAO PUBLICA DA PROSTITUICAO: politicas, putas e conflitos nas arenas locais e internacionais
Apresentação Oral em GT
Silvia Lilia Silva Sousa
Memórias das esquinas: a trajetória de prostitutas na “batalha” pelas ruas do bairro da Campina, Belém/ PA
No presente work volto meu olhar à prostituição no contexto urbano belenense, especificamente ao bairro da Campina, área central da cidade de Belém/ PA, onde predominou entre os séculos XIX e XX o centro da boemia e o principal ponto de prostituição da cidade. Neste bairro foi construída no ano de 1921 a famosa zona do meretrício, também conhecida como “quadrilátero do amor”, fechada na década de 1970 pelo governo militar. Este artigo se propõe compreender as relações que mulheres prostitutas mantêm com o bairro estudado, levando em consideração suas trajetórias, memórias e lutas. Sendo assim, percebo que por entre as esquinas, boates e pensões emergem histórias que povoam as memórias (Halbswachs,1996) destas mulheres, narrativas que permitem refletir sobre diferentes interpretações quanto a cidade, portanto outras formas de sociabilidade e de exprenciar a urbe. Voltar-me às trajetórias de prostitutas é fundamental para que eu possa lançar o olhar ao outro no contexto urbano que experiencia a cidade a sua maneira, e que é sujeito nos processos de transformações dos espaços, mas que ao mesmo tempo, paradoxalmente, alguns fazem questão de não enxergar e são os principais alvos das medidas higienizadoras ditas revitalizadoras (JACQUES, 2012) na urbe amazônica. É válido ressaltar que esta pesquisa privilegia as narrativas de antigas prostitutas da área, em grande maioria associadas ao GEMPAC (Grupo de Mulheres Prostitutas do Pará), entidade não governamental que se articula há mais de 25 anos em prol dos direitos da mulher prostituta. Entender como a cidade pode ser interpretada a partir de múltiplas perspectivas é uma forma de perceber os diversos usos que os habitantes fazem dela ao longo do tempo. Compreender aspectos desse processo a partir das narrativas de prostitutas é também lançar o olhar para as margens, para as táticas (Certeau,19994) de permanências na urbe belenense. Maneiras de burlar, protestar e enfrentar os preconceitos e as violências que sofrem no exercício da profissão. Nesta perspectiva, direciono meus estudos a quem esteve e está ali todos os dias, quem vive, circula, observa, luta e é sujeito com agência no processo de transformação do bairro estudado.