GT 023: Diálogos no campo da Antropologia da Alimentação: Comensalidade, Ética e Diversidade
Pôster em GT
Clarissa Torres de Aguiar, Arthur Henrique Almeida Elvison Moura
Comendo Como Gente, Práticas de conhecimento indígena sobre alimentação e Comensalidade". Um encontro de Antropologia e Educação.
Realizado em junho de 2015, o seminário "Comendo Como Gente", uma iniciativa do OEEI - UFMG (Observatório da Educação escolar indígena), contou com a participação de pesquisadores indígenas de diferentes etnias e etnólogos. O OEEI é um espaço de interação e cooperação entre pesquisadores indígenas e não indígenas, constituindo-se como uma rede de work conjunto. Dessa forma, as mesas do seminário foram compostas por etnólogos de diferentes gerações, com trabalhados já reconhecidos na Antropologia, e por convidados indígenas das etnias com que trabalham. Essa proposta se mostrou desafiadora por reunir diferentes perspectivas num mesmo espaço, no qual antropólogos não indígenas e pesquisadores indígenas participaram igualmente, dividindo as mesas de diálogo, assim como o auditório. Para pensar a educação indígena é indispensável discutir a alimentação. As diferentes falas do seminário demonstraram esta continuidade, que envolve o tema da comensalidade. Por comensalidade entende-se alimentação para além do seu mero valor fisiológico, enfatizando os aspectos cosmológicos, os significados simbólicos, a produção da vida cotidiana, a mitologia, a fabricação dos corpos, a gestão do território, entre outros. Ciente que na perspectiva ameríndia do corpo e dos processos de fabricação da pessoa (Segeer, Da Matta, Viveiros de castro, 1979), pretende-se enquadrar as técnicas alimentares enquanto práticas de conhecimento que interagem na produção do corpo e das relações sociais. Nesse sentido, a comida e as práticas relacionadas se constituem como um modo de ser e estar no mundo, assumindo diferenças e alianças com o Outro, sendo este parente, agente do governo, antropólogo, animais, espíritos da floresta, ou seja, toda uma rede sócio-cósmico do mundo ameríndio. O corpo é indissociável dos processos de conhecimento. Cuidar do corpo, alimentar-se de uma maneira correta, faz estabelecer vínculos que contribuem para o próprio modo de ser indígena, sua identidade e a existência do universo que o cerca. Comer como gente, é premissa para aprender como gente. E ser gente é ser Paumari, Yanomami, Maxacali, Krahô, etc. Com o seminário, foi possível um amplo diálogo sobre a temática, em que antropólogos revisitaram e avaliaram suas pesquisas ao compartilhar com seus colegas e também com os convidados indígenas, que traziam atualidades, outras experiências e críticas.Talvez o mais importante tenha sido a intensa troca entre indígenas de diferentes partes do país. Apesar das muitas etnias, é possível que tenham encontrado continuidades entre as distintas maneiras de pensar e de ser gente, além de refletirem sobre possibilidades de ação frente às transformações no mundo indígena, sobretudo no que diz respeito às práticas alimentares.