GT 001: A GESTAO PUBLICA DA PROSTITUICAO: politicas, putas e conflitos nas arenas locais e internacionais
Pôster em GT
Guilherme Alef da Costa Carvalho, Lucas Bernardo Dias
Cidade imaginada, cidade existente: processos de renovação urbana e prostituição no Rio de Janeiro
Esse work visa olhar a cidade do Rio de Janeiro a partir de suas ruas e da sociabilidade erótica que nelas têm lugar. Não se trata de qualquer rua, mas aquelas próximas às gares, ao porto, às grandes avenidas que levam e trazem trabalhadores provenientes de municípios vizinhos, bairros distantes ou mesmo outros países. Ruas, portanto, propicias à determinados encontros livres das promessas do amor eterno. Ruas que configuram as chamadas “regiões morais” (PARK, 1967) da cidade e que, nesse caso, concentravam-se na área central de negócios do Rio de Janeiro: próximo ao porto, às gares da Central do Brasil e Leopoldina, às margens da grande avenida Presidente Vargas e, mais recentemente, ao viaduto da Linha Lilás, que desde os anos 1970 passou a ligar a região portuária do Rio com a Zona Sul da cidade.
Ali, no então chamado Mangue, uma nova história urbana veio se constituindo na medida em que todo aquele sistema construído foi sendo desmantelado pelo planejamento oficial. A cada investida contra as ruas que acolhiam bordéis, pequenos hotéis e oficinas (com os mais variados serviços dedicados à manutenção do comercio da área central), prostitutas, onanistas, marinheiros, vagabundos, passantes, vendedores ambulantes e outros integrantes desse pequeno e animado universo urbano formavam uma “comunidade de aflição” (Victor TURNER, 1957) que, ao final dos anos 1980, se organizou em uma associação, a primeira associação de prostitutas (“e amigos da Vila Mimosa”) fundada no Brasil, para conter a demolição do que ainda restava do casario local. Apesar da grande mobilização, o Teleporto e o Centro Administrativo São Sebastião (CASS), da Prefeitura do Rio, foram finalmente construídos sobre o terreno onde a prostituição carioca havia perdurado durante quase um século.
O apagamento de uma tal memória, contudo, não se faz da noite para o dia. O prédio da Prefeitura, hoje conhecido como “Piranhão”, tornou-se, com esse nome dado pela população, um símbolo da memória do Mangue. Já a chamada Vila Mimosa, que abrigou a prostituição do Mangue em seus estertores, deu nome à nova “zona” reconstruída a poucos metros dali, num setor recôndito da Praça da Bandeira. Ou seja, apesar de todos os investimentos, a “zona” carioca permanecia no imaginário da cidade e, por conseguinte, no desejo de seus habitantes, sendo, assim, recriada a sua velha ambiência em setor contiguo.
Nesse work, iremos refazer essa trajetória de construção e reconstrução da “zona de prostituição” do centro do Rio de Janeiro, à luz das políticas de constituição da área segregada para tal atividade e, também, da mobilização das prostitutas do Mangue para a formulação de uma crítica aos processos de renovação urbana e seus argumentos.