GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Isabela Andrade de Lima Morais
“Com um ente querido eu vou até o final”. Experiências de reciprocidade dos consumidores fúnebres
Pesquisadores clássicos do campo ritual da morte sinalizam para uma atitude individualista, pragmática, laica, secular e por um processo de solidão, de interdição, de ocultamento e de banimento da morte e dos mortos nas sociedades contemporâneas (ARIES, 2003, 2000, 1999 e ELIAS, 2001), porém, uma pesquisa etnográfica sobre mercado e consumo fúnebre realizada para o Doutorado em Antropologia, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, nos anos de 2006 a 2009, demonstrou atitudes relacionais estabelecidas com os mortos. Nossos mortos são lembrados, invocados e chorados. Há um vínculo com os que se foram. Os mortos possuem “mana”, tem valor mágico, religioso e social. Neste contexto relacional e mágico, a lógica da reciprocidade está presente quando do consumo fúnebre. Relatos de: “era a última coisa que eu podia fazer por ele (ou por ela)” alimentam a cadeia econômica do mercado de produtos e serviços funerários. Objetivo dessa comunicação é apresentar o consumo de produtos e serviços fúnebres como uma possibilidade de retribuir algo. É uma dádiva contratual, um “potlach”, um “kula”. Os gastos com um funeral além de cumprir uma função tranquilizadora para os viventes (THOMAS, 1991) sendo percebido como “a única forma para recompensar a perda”; significa também, para os consumidores fúnebres, a possiblidade de retribuir ao ente que morreu algo que ele ofereceu quando vivo. E é essa retribuição que mantém o vínculo entre os vivos e os mortos.