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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Leticia Rodrigues Ferreira Netto
O luto sem corpo e a formação da memoria de desaparecidos políticos por parte de seus familiares
Os estudos sobre o luto costumam apresenta-lo como um processo uno apesar dos vários tipos de luto. O que identifico na pesquisa é uma diferenciação para além de caracteres culturais ou religiosos, mas na relação entre o luto e a forma como o corpo morto se apresenta ou deixa de se apresentar naquilo que podemos chamar de ritual. Intento com tal pesquisa começar um processo de expansão do entendimento sobre esse processo, não para criar um extremo relativismo que impeça a análise, mas antes para compreender e contemplar as diferenças que costumam ser tão sutis nessa situação. Pois, devido à história do país no século XX, momento em que se instauraram duas ditaduras que se utilizaram da força para manter sua legitimidade, é necessária a discussão sobre os processos de perda por que passam os envolvidos mais diretamente e que geram lutas por direitos à memória. Para realizar essa discussão, busco os estudos da Antropologia da Morte e dos rituais, bem como os Estudos da Memória, tema amplamente discutido no final do século passado e no presente século. A partir das distinções entre memória individual, memória de grupo e memória nacional, penso poder contemplar as tensões existentes sobre esse tema atualmente. Tentarei, também, compreender de que forma as diferentes instituições podem interferir no processo de luto e na elaboração da lembrança de um desaparecido. Lembrança essa que se coloca como local relacional entre a família e seu falecido. Até o presente momento, três tipos de luto foram percebidos: o luto com corpo identificável; o luto com corpo não identificável; e o luto com ausência de corpo. O estudo deste último tipo se mostra mais delicado e depende de etnografias junto a famílias que apresentem a condição de desaparecimentos políticos devido à anuência da morte. Quando se fala de desaparecimentos em que essa aceitação não ocorre, por vezes, não se pode falar em luto devido à postura com que a família se relaciona com tal individuo. A não-presença do corpo é ainda um elemento importante a ser considerado, visto que o Brasil tem diversos casos de desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres da ditadura militar não solucionados apesar das diversas comissões instituídas. Ainda, a memoria oficial veiculada por essas comissões tem um peso por ser aquela veiculada nas escolas e nas mídias e aquela que se forma para os cidadãos nascidos após a redemocratização. E quando não contempla os familiares, pode haver conflitos entre as visões do passado e o impedimento na realização de direitos. Os estudos acerca de um processo de enlutamento diferenciado pode auxiliar na construção de uma imagem de tal período que contemple as famílias e que permita perceber a gravidade de tal regime para os direitos humanos.