Redes sociais da ABA:
Logo da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia
3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Renata Freitas Machado
O Aruê e as narrativas sobre a morte
A comunidade pesqueira de Matarandiba, localizada na Ilha de Itaparica, Bahia, se despede do ano velho e dá boas vindas ao ano novo com a Festividade do Aruê. No Aruê é preparada uma jangada com partes da bananeira, as folhas formam um arco, no meio é colocado um mamão com olhos, nariz e boca entalhados, lembrando uma caveira. As flores rosadas também compõem o cenário. Tais elementos parecem nos remeter a um rito fúnebre. O cortejo sai do Alto do Cruzeiro (Matarandiba), antes da meia-noite, percorrendo todas as ruas da Vila, quatro homens seguram em volta da jangada, atrás uma multidão canta: Aruê, aruê, Aruê, Aruá, enterrar o ano velho que o novo vai chegar. Em volta da jangada, mulheres e homens seguem o cortejo e lamentam com gritos o enterro de mais um ano. Ao final do cortejo, quando o ano já foi despachado na maré, a comunidade festeja o ano novo com o samba de roda. O Aruê tem sido a base para compreensão da relação da comunidade com a morte e seus rituais funerários. O morto e o ano percorrem caminhos inversos dentro da comunidade. De um lado temos o ano que segue até a praia e é despachado. Do outro, o morto que também segue em cortejo, porém no caminho oposto e distante da Vila, e é enterrado. Ao tentar entender os rituais funerários, do ponto de vista da antropologia da performance, outras categorias analíticas emergem. A exemplo da religiosidade, afetividade, memória e som. Nesse work a música/som ocupa um lugar de evidência. O próprio campo me apresenta a música como lugar privilegiado para compreensão dos rituais funerários. A música está presente no cotidiano das pessoas em Matarandiba, seja nas cantigas das lavadeiras, as cantigas para mariscar, os cantos das rodas de samba, cânticos das manifestações culturais e também nas canções de despedida. No caso específico do Aruê, as batidas do timbal compõem a canção em coro que acompanha o cortejo. Já nos enterros, o contexto sonoro é composto por cânticos respondidos em coro, murmúrios de tristeza e soluços. A música está inserida nas várias atividades sociais e tem estreita relação com outras formas expressivas, o que se configura como importante plano de análise da antropologia. A etnografia da performance musical traz a cena outros fenômenos, não necessariamente acústicos mas extremamente importantes do ponto de vista antropológico. A proposta do work é uma reflexão, a partir do diálogo da antropologia da morte e uma etnografia da performance musical, acerca da relação da comunidade com a morte e os desdobramentos dos seus rituais mortuários. O work é um recorte da pesquisa de doutorado que está sendo desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social.