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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Helio Figueiredo da Serra Netto, José Leandro Gomes de Souza Jorge Oscar Santos Miranda
Moradas eternas, morada dos vivos: um olhar sobre o culto dos mortos no cemitério da Soledad em Belém - Pará .
Ainda que a técnica se desenvolva ao seu mais alto nível a natureza nunca se desdobra ao homem, a morte em sua sutileza – ou sem nenhuma – sempre se faz presente e nos espreita em nossa caminhada diária, mas onde ela nos encontrará? Em Belém do Pará, toda segunda-feira, pessoas dos diversos tipos – de classes, cor, gênero, idade e credos – peregrinam nos cemitérios da cidade em busca de graças, pagamento de promessas e gratidão nos chamados “Culto das Almas”. Santos populares, exús, novenas e oferendas fazem parte deste tímido, mas não menos importante, acontecimento da cidade, e que encontra no famoso cemitério da Soledad uma importante expressão da relação das pessoas com o espaço urbano. Este cemitério é conhecido por ser situado no centro da cidade e por se constituir como uma importante referência arquitetônicas, além de uma pérola da cultura imaterial local, nele se encontram não só as imponentes esculturas e mausoléus herdados do período histórico da belle époque, como também as importantes figuras que compõem o imaginário das “visagens e assombrações” da cidade. O doce “Menino Cícero”, a poderosa “Raimundinha Picanço” e a benevolente “Preta Domingas” figuram, entre outros, como ilustres habitantes e como um dos mais milagrosos e cultuados; placas, velas, novenas, oferendas, fotografias e outros objetos são deixados em um ritual semanário em sinal de agradecimento, muitas são as graças alcançadas. O cemitério se torna um enclave em meio ao caos urbano, as buzinas dos engarrafamentos caóticos são docemente abafadas pelo canto dos pássaros, pelo som das folhas e dos galhos soprados pelo vento e, principalmente, pela ferocidade das chamas que consomem as centenas de velas espalhadas pelo local. Os mortos tornam-se íntimo dos vivos, as moradas eternas abrem suas portas e se tornam uma espécie de sala de visita onde os vivos adentram e realizam sus orações e oferendas. Em meio aos rituais individuais, em uma pequena capela castigada pelo tempo e pela invisibilidade pública, um padre – que esbanja uma simplicidade visível –, realiza ao longo do dia orações do terço e abençoa as pessoas e seus objetos. Lá as pessoas não só peregrinam, mas também conversam, se sentam e leem seus jornais e revistas, a paisagem amena, que se constrói nessas relações, são invadidas pelo cheiro das velas nos fazem lembrar da nossa fatídica e humana fragilidade diante da morte. Mas neste espaço é tempo de paz. Este work é fruto de uma tese de doutorado, em andamento, que busca compreender a relação entre a imagem, a memória, o sagrado e as tecnologias fotográficas.