GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Uliana Gomes da Silva, Ednalva Maciel Neves (edmneves@gmail.com)
Dinâmicas e fenômenos sociais: um estudo sobre a morte no cemitério da comunidade Nossa Senhora da Guia, Paraíba
Este work reflete a respeito da temática da morte e o espaço de sepultamento a partir da pesquisa desenvolvida no cemitério da comunidade Nossa Senhora da Guia em Lucena-PB. O cemitério está situado na parte mais alta da comunidade entre o santuário Nossa Senhora da Guia e uma reserva florestal. Trata-se de um cemitério sem muros, cujo espaço sagrado é marcado pela grande cruz que perdura no meio dos túmulos. Os túmulos são enfeitados por “grinaldas” coloridas que chamam a atenção do transeunte, ocupando área relativamente pequena e, por isso, sua capacidade para construção de novos túmulos está limitada. No entanto, a procura pelo sepultamento tem crescido recentemente, com novas construções que chegam a adentrar a reserva florestal, outros invadem o espaço utilizado pelo comércio local, que funciona nos dias de missas. Tal singularidade nos fez refletir sobre as modalidades de enfrentamento da morte em contexto social contemporâneo diferente do modelo propagado do chamado tabu da morte, para compreender a dinâmica das atitudes e representações ali realizadas. Nosso work se fundamenta em uma pesquisa de campo realizada em 2011 a 2015, quando observamos e entrevistamos as pessoas que tinham parentes enterrados no cemitério. Para a maioria dos interlocutores, o lugar aparece como “local calmo”, entendido como “lugar ideal” para ser enterrado. Outros aspectos são relevantes como: o fato de que não se paga taxa para “enterrar”, a manutenção dos túmulos é feita pelos familiares do falecido, assim como na maioria dos casos é a própria família que “cava a cova” para o sepultamento. Existem diferenças entre os túmulos que se tornam visíveis, em termos de: tamanho, estrutura e decoração. De modo geral, se percebe que a distinção faz parte do cenário. Tais diferenças podem ser explicadas a partir das diferenças relacionadas aos marcadores sociais, refletindo as condições econômica, social e também religiosa de cada família. A religiosa diferencia os túmulos pelo que seja considerado “católico” ou “crente” de acordo com as crenças local, indicando assim modalidades que envolvem as relações entre vivos e mortos segundo as normas e ethos da vida religiosa. As obrigações de manutenção do túmulo continua sendo uma responsabilidade da família e motivo de controle social por outras famílias e visitadores do cemitério. A ,manutenção é justificada pela reciprocidade com um ente querido como mecanismos para continuar a integrar a vida social daqueles que continuam. Atribuições de características para a morte foram feitas: “ela é sacana”, “covarde”, “injusta”, mostrou se presente também nos discursos as diferenciações de tipos de morte “boa morte”, “morte natural”, “morte matada”, “morte ruim”, relacionando as com o ultimo suspiro das pessoas sepultadas.