Redes sociais da ABA:
Logo da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia
3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Anne Caroline Nava Lopes, Anne Caroline Nava Lopes Isanda Maria Falcão Canjão Silvia Cristianne Nava Lopes
DE COMPANHEIRA A VILÃ: nós, os outros, e a morte.
A abordagem sobre a temática da morte que aqui se deseja construir tomando como referência a adotada perspectiva histórica aplicada por Elias ao estudo sobre os costumes ultrapassa, portanto, uma conotação biológica e assume sua significação na esfera social. Portanto, a presente discussão não é sobre a morte física ou sua experiência em nível psicológico, mas sobre a morte como uma expressão de nível coletivo - sociogênese. Não queremos substituir uma explicação biológica por uma explicação puramente social, mas sim explorar a imbricação entre os fenômenos sociais e biológicos observando o controle estatal sobre o morrer. O presente work decorre da pesquisa desenvolvida no Mestrado em Ciências Sociais e pretende explorar um aspecto específico sobre a morte, qual seja, as relações entre saber médico e a morte. Acreditamos que o estudo sobre as relações entre a medicina e a morte é uma das maneiras mais eficazes de se compreender o impacto que o desenvolvimento –tecnológico e o saber médico exercem sobre a sociedade contemporânea, principalmente no que concerne ao controle social sobre a forma como as pessoas morrem, sob o prisma regulador estatal que legitima o saber médico. Esse tipo de controle social no âmbito da biopolítica atua no domínio dos controles exteriores calcados na disciplina. Trata-se de uma ação estatal tanto direta quanto indireta que aciona instrumentos coercitivos sobre os indivíduos. Por trás existe tanto uma imposição de uma forma de morrer, refiro-me a hegemonicamente hospitalar, quanto um adestramento com base em condicionantes que incutem nos indivíduos um aprendizado cada vez mais forte. De acordo com Elias em sua obra A Solidão dos Moribundos (2001, p.57): “Os indivíduos aprendem não somente desejarem a assistência hospitalizada, mas a ela se submeterem docilmente”. Uma das consequências da perfeição técnica da medicina e dos novos hábitos instituídos e reconhecidos foi o fato de os moribundos terem sido fatalmente afastados para os bastidores da vida social como sugere Elias. É sobre essa dimensão medicalizada que desejamos refletir. Finalmente, a atualidade do tema e a reflexão realizada neste work dão-se pela motivação de discutir um tema por muito tempo silenciado, enquanto um assunto interditado e banido do cenário da vida, uma vida moderna que se caracteriza cada vez mais pela atitude de recusa da morte.