GT 043: Moradores da Maloca (Aldeia) Grande: Reflexões sobre os indígenas no contexto urbano
Apresentação Oral em GT
Alexandre Magno de Aquino
Paisagens urbanas na configuração do território kaingang: relações entre processos históricos e as transformações na paisagem indígena no sul do Brasil
Analiso o contexto etnológico e histórico que relaciona a territorialidade kaingang às transformações decorrentes do surgimento dos primeiros núcleos urbanos que se estabeleceram em seu território tradicional. Observam-se as várias formas e os motivos da usurpação de terras tradicionalmente ocupadas, os quais estiveram presentes desde o início da colonização, mas que foram gradualmente realizados por meio de uma série de eventos (expedições militares e cientificas, construção de estradas e criação de aldeamentos) em que a ideia de vazio demográfico relaciona-se com a paisagem. Neste sentido, as aldeias e acampamentos kaingang faziam parte de um território maior do que os limites encontrados atualmente para as aldeias demarcadas no planalto meridional, onde estão os principais sítios desta etnia, envolvendo várias das atuais cidades da região, o que incide na dinâmica tradicional de ocupação do espaço e nos aspectos sociocosmologicos da relação com a alteridade, tanto no que se refere aos conflitos engendrados pelas reivindicações em andamento para a retomada de sítios ancestrais e, consequentemente, à política do órgão responsável (FUNAI), quanto à (re)configuração dos locais de deambulação e de assentamento, quando passam a ser acessados a partir dos acampamentos e/ou são efetivamente demarcados. Este estudo visa abordar justamente a dinâmica socioespacial kaingang neste processo histórico em que surgem ora uma paisagem suplantada pelas cidades, caracterizada por não haver condições para viverem em meio ao incremento dos equipamentos urbanos, ocasionando deslocamentos pela busca de locais com condições necessárias a preservação física e cultural, ora uma paisagem em que incipientes cidades são reintroduzidas no espaço aldeão, o que traduz o bem viver desta população indígena como um coletivo. Ao que tudo indica, como informam diversos autores (Motta & Tommasino, 2002; Amoroso, 2000), não obstante as cidades tenham se tornado importantes, seja para a economia, devido à exiguidade do território para realização das atividades de subsistência tradicional e o aumento da importância da venda de artesanatos, seja para a cosmologia, devido à existência de cemitérios ancestrais e/ou para incorporação de poderes dos fóg (brancos), as transformações no território kaingang nos remetem para as formas sociais em que a reciprocidade orienta a territorialidade, o que se deve ao fato do grupo local ser compreendido, antes de tudo, como um grupo de parentes, intimamente relacionado ao processo de fabricação do corpo e a constituição do coletivo, concebido como “um corpo que se faz como corpo de parente” (Coelho de Souza, 2001: 75).