GT 043: Moradores da Maloca (Aldeia) Grande: Reflexões sobre os indígenas no contexto urbano
Apresentação Oral em GT
Daniel Bampi Rosar
Acadêmicos indígenas da Universidade Federal de Roraima: reflexões sobre o processo de seleção.
A crescente busca dos jovens indígenas de Roraima por cursos superiores tem atenuado cada vez mais o distanciamento entre a cidade e a comunidade. Em sua maioria oriundos de comunidades, estudam no campus da Universidade Federal de Roraima (UFRR) na capital Boa Vista, constituindo um espaço onde as questões das comunidade e da cidade se misturam. O ingresso por meio de vestibular específico é um momento crítico para a composição do grupo que formará esse contexto. Esse work produz uma reflexão sobre a experiência na execução do vestibular indígena da UFRR, expondo os desafios encontrados e estratégias utilizadas.
O programa de acesso de alunos indígenas na UFRR iniciou em 2001, e atualmente é composto pelo Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, com cursos de Licenciatura Intercultural, Gestão Territorial Indígena, Gestão em Saúde Coletiva Indígena e 54 vagas em 15 cursos regulares por meio do Processo Seletivo Específico Indígena (PSEI). O perfil do aluno é definido nas demandas do movimento indígena, articulado ao processo histórico, com propósito de formar indígenas para esses contextos, direcionados aos objetivos coletivos e não em projetos individuais.
Dentre os desafios encontrados destacamos três questões fundamentais: a) a construção de critérios e métodos que possam avaliar o engajamento social dos candidatos em relação a seus povos; b) a relação estabelecida com a diversidade cultural proporcionando chances para os diferentes povos; c) o embate com um sistema conservador na compreensão sobre isonomia.
O processo seletivo é discutidos com organizações indígenas do estado, no entanto, posteriormente é alterado por questões jurídicas e administrativas. Partem da idéia de isonomia que entende sociedade como entidade homogênea, não dando conta da diversidade cultural dos povos indígenas. Como estratégia a UFRR adota um modelo diferenciado contemplando a divulgação, inscrição, elaboração das provas e avaliação final.
Avaliamos a divulgação por meio de organizações e discentes indígenas, articuladas com inscrições nas comunidades e orientações específicas para os candidatos de acordo com seu povo ou região. Ainda, as provas elaboradas e avaliadas por professores com experiência na educação escolar indígena, envolvendo currículo, memorial, redação, prova objetiva e discursiva.
Considerando a dimensão, pioneirismo regularidade anual e tempo de existência desse processo, bem como a abrangência étnica e regional de praticamente todo estado de RR, essa é uma experiência bem sucedida. Já a seleção de candidatos adequados ao perfil desejado, o acompanhamento e permanência desses alunos e o diálogo no ambiente burocrático e legal do Estado, são entraves que ainda devem ser superados.