GT 001: A GESTAO PUBLICA DA PROSTITUICAO: politicas, putas e conflitos nas arenas locais e internacionais
Apresentação Oral em GT
Francisco Tiago Costa de Castro, Leonardo Damasceno de Sá
Corporalidades em fluxo nos trilhos da prostituição: uma etnografia das travestis e transexuais num bairro periférico de Fortaleza
Na vida diária de um bairro periférico da zona oeste de Fortaleza, quando anoitece, mulheres, travestis e transexuais desfilam em exposição numa área próxima da estação ferroviária, conhecida popularmente como "trilho". Trata-se de uma área estigmatizada como lugar de prostituição, práticas de assaltos e também homicídios. Dessa forma, parte dos moradores e passantes, além dos agentes policiais e outras instâncias de controle social, classificam as pessoas que fazem ponto nesses locais como perigosas, o que se torna uma marca decisiva para as ações de gestores públicos no modo como lidam ou ignoram as demandas provenientes das pessoas dessa territorialidade em conflito. O objetivo deste paper é descrever e analisar as corporalidades das travestis e transexuais a partir de suas falas no universo da prostituição do "trilho", no modo como elas se imaginam nesse enfrentamento cotidiano às práticas de divisão a que estão assujeitadas, mas contra as quais desenvolvem agenciamentos próprios de poder e desejo, o que se expressa simbolicamente em suas imaginações, desejos e medos. Argumentamos a favor de uma compreensão acerca das zonas de meretrício de travestis e transexuais para que estas sejam percebidas não apenas como lugar de work sexual e sim como espaços de visibilidade, sociabilidade e aprendizado dos processos de construção do corpo das travestis no espaço público. Dessa forma, privilegiamos uma opção teórico-metodológica que procura apreender os fenômenos sociais através do corpo, sendo este o acesso e o significado do mundo social. Os dados foram produzidos por uma pesquisa etnográfica em andamento com as travestis e transexuais que fazem ponto no "trilho", além de uma gama de atores sociais que espacializam suas ações nesse lugar. No "trilho" foram encontradas travestis e transexuais em diferentes estágios de transformação corporal, desde “travecão” a “barbie”. Algumas delas trazem em seus corpos sinais de violência que permeia o cotidiano de quem vive da prostituição de rua. Tal violência se manifesta de diferentes formas e envolve outros indivíduos. Logo, ao mesmo tempo em que esse território se constitui num espaço onde se aprende os métodos e técnicas de transformação do corpo, as formas corporais classificadas por elas como mais apropriadas, e onde se validam os seus desejos de transformação corporais, é também o lugar de estigma, de desvalorização, de marginalização, tendo em vista que nos discursos de outros indivíduos não há qualquer referência que as valorizasse enquanto cidadãs. Tal percepção se coloca como desafio à gestão pública, no sentido de garantir o acesso serviços e programas sociais, tendo em vista que as transformações que elas fazem sobre o corpo são realizadas à margem dos sistemas de saúde, por exemplo.