Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 001: A GESTAO PUBLICA DA PROSTITUICAO: politicas, putas e conflitos nas arenas locais e internacionais
Apresentação Oral em GT
Soraya Silveira Simões
Cidades imaginadas, cidades existentes: prostituição e a produção de uma narrativa crítica urbana
Os movimentos sociais urbanos em cidades brasileiras têm reivindicado sobretudo moradia e work, além da gestão mais democrática e integrada dos serviços publicos de transporte, sobretudo em regiões metropolitanas. Esses movimentos têm construído, de maneira bem articulada, uma crítica global ao neoliberalismo e à mercantilização das cidades e, com eles, aos sistemas políticos transformados em bolsas de valores nas câmaras legislativas municipais, estaduais e federal. Dentre esses movimentos urbanos formuladores das críticas endereçadas à globalização e à cidade-commodity, destacamos aquele animado pelo « direito à rua », ao espaço público, à certos horários e formas de encontro: o movimento de prostitutas. Sua luta, deflagrada pela violência policial, em particular, tem como agenda o direito de performance nas ruas, calçadas e esquinas, sendo portanto por um « direito à ação » (entendida como « work ») que prostitutas hoje, no Brasil, se mobilizam. No Brasil, nos anos 1950 e 1960, era o Estado quem promovia a destinação de certas populações para local segregado através de decretos, programas e leis. No caso da prostituição, as chamadas « zonas de tolerância » foram sendo demarcadas e densificadas nesse período, em várias cidades brasileiras de médio e grande porte (Fortaleza, Marabá, Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo, São Luiz, Rio de Janeiro, Natal, Uberaba, Campinas) e essa política de segregação e controle foi amplamente tratada na bibliografia acadêmica brasileira. Hoje, as associações de prostitutas espalhadas pelo pais desenvolvem, cada uma, uma crítica de seus contextos urbanos e é através desses olhares que podemos enxergar os expedientes variados – e simbólica e fisicamente violentos – da expansão do capital. Expulsões, perseguições, ameaças e demolições são tramas desse enredo que, do ponto de vista oficial, visa promover o « desenvolvimento das cidades ». O histórico de aprendizagem com o arbítrio do poder público forjou, portanto, um movimento contestador de muitas políticas da cidade e de medidas que visam regular sobretudo os comportamentos para instaurar, com isso, uma ética e uma estética da cidade encarnadas em seus habitantes. E é a partir do movimento brasileiro de prostitutas e, em particular, de suas mais recentes açoes de protesto, com demonstrações eloquentes de um embodied knowledge, que pretendemos abordar as críticas por elas formuladas e algumas experiências de liminaridade nas cidades brasileiras para, com isso, ressaltar a produção de narrativas sobre políticas de urbanização e de segurança publica no Brasil que obscurecem os avanços conquistados por esse sujeito no campo dos direitos sociais.